quinta-feira, 7 de maio de 2015

ROMANTISMO - Professora Ana


Precedentes: Período de Transição (1808-1836)
Simultaneamente ao final das últimas produções do movimento árcade, ocorreu a vinda da Família Real portuguesa para o Brasil. Esse acontecimento, no ano de 1808, significou o início do processo de Independência da Colônia. O período compreendido entre 1808 e 1836 é considerado de transição na literatura brasileira devido à transferência do poder de Portugal para as terras brasileiras que trouxe consigo, além da corte e da realeza, as novidades e modelos literários do Velho Continente nos moldes franceses e ingleses. Houve também a mudança de foco artístico e cultural, da Bahia para o Rio de Janeiro, capital da colônia desde o ano de 1763.
Segundo o crítico literário Antônio Cândido, no livro Noções de Análise Histórico-literária:
"No Brasil não havia universidades, nem tipografias, nem periódicos. Além da primária, a instrução se limitava à formação de clérigos e ao nível que hoje chamamos secundário, as bibliotecas eram poucas e limitadas aos conventos, o teatro era paupérrimo, e muito fraco o intercâmbio entre os núcleos povoados do país, sendo dificílima a entrada de livros."
O que explica o desenvolvimento literário incipiente, se comparado com o mesmo período na metrópole. Os autores vistos até então eram produto da educação europeia e/ou religiosa que receberam.
Com a vinda da Família Real, os livros puderam ser impressos no território, em função da Imprensa Régia, derrubando a medida que proibia sua impressão e difusão sem a autorização prévia de Portugal, dando início não apenas ao desenvolvimento da literatura mas, também, a um sentimento de nacionalidade no território, uma das principais características do período romântico brasileiro.
Contexto Histórico na Europa
O final do século XVIII presenciou a ascensão da tipografia, inventada pelo alemão Johannes Gutenberg, que possibilitou o desenvolvimento da impressão em grandes quantidades de jornais e romances. No início, os romances eram publicados diariamente nos jornais de forma fragmentada, assim, a cada dia um novo capítulo da história era revelado. Esse esquema, importado para a colônia, ficou conhecido como "folhetim" ou "romance de folhetim" e deu origem às telenovelas que conhecemos nos dias de hoje.
Assim, com a Revolução da Imprensa, uma das principais características do período Moderno, houve também a ascensão dos romances impressos, popularizando o artefato (o livro não era mais considerado um artigo de luxo, inacessível) e proporcionando um largo alcance da literatura às camadas inferiores da sociedade e também às mulheres, que raramente tinham acesso às letras e, quando muito, eram alfabetizadas.
Considera-se o marco inicial do romantismo na Europa a publicação do romance Os sofrimentos do jovem Werther, do escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe no ano de 1774. Historicamente, um dos marcos principais do movimento foi a Revolução Francesa, responsável pela difusão dos pensamentos Iluministas na Europa e nas suas colônias, que tanto inspirou os poetas árcades brasileiros.
Com o processo de industrialização dos grandes centros, houve um delineamento das classes sociais: a burguesia, com riquezas provenientes do comércio, e os operários das indústrias. Logo, a literatura do período foi produzida pela classe dominante e para a classe dominante, deixando claro qual a ideologia defendida por seus autores. 
Contexto Histórico no Brasil
Considera-se que o período romântico no Brasil inicia em 1836, com a publicação da obra Suspiros Poéticos e Saudades, do poeta Gonçalves de Magalhães e vai até o ano de 1881, com a publicação do romance realista Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis.
Como dito anteriormente, o desenvolvimento da literatura brasileira propriamente dita aconteceu a partir da vinda da Família Real para o Rio de Janeiro que gerou um forte desenvolvimento artístico e cultural na colônia, agora afinado com a produção literária europeia. Porém, a insatisfação das classes dominantes com o Império fez com que surgissem tentativas de independência da metrópole, produzindo um sentimento de nacionalismo que culminaria com a Declaração da Independência, em 1822, por Dom Pedro I.
Outro aspecto importante é com relação à escravidão dos negros: o Brasil era uma das poucas colônias americanas que ainda sustentava o sistema econômico baseado do trabalho escravo, o que gerou opiniões controversas por parte dos autores daquela época. Temos expressões literárias abolicionistas (p. ex.: o poeta Gonçalves de Magalhães) e outras que tratavam do tema superficialmente (p. ex.: o romancista Bernardo Guimarães) ou sequer tocavam na questão.
A independência das colônias latino-americanas impulsionou um sentimento de nacionalidade diretamente refletida pela literatura. A formação dessas literaturas esteve a cargo de autores que projetavam os ideais de uma nação em crescimento e desenvolvimento e que até hoje são considerados constitutivos da história da nação. No entanto, essa literatura fundacional e canônica da América Latina é revista por muitos professores, críticos literários e historiadores, pois apresentam apenas uma visão referente à formação das nações latino-americanas. Como assinala o professor e crítico literário Eduardo F. Coutinho:
"Na América Latina, durante o século XIX, o sujeito enunciador do discurso fundador do estado-nação tomou como base um projeto patriarcal e elitista, que excluiu não só a mulher, mas índios, negros, analfabetos e, em muitos casos, aqueles que não possuíam nenhum tipo de propriedade. A preocupação dominante era marcar a diferença da nova nação com relação à matriz colonizadora, mas o modelo era obvia e paradoxalmente a metrópole; daí a necessidade de forjar-se uma homogeneidade que excluísse todas as diferenças."
O que causa uma sensação de estranhamento é o paradoxo observado no período: ao mesmo tempo em que ideias sobre o sentimento de nacionalidade aflorava nos corações dos brasileiros (e demais latino-americanos), parte da população permanecia na miséria e/ou em situações de escravidão, sem acesso à emancipação e aos direitos humanos básicos.
Principais Características do Período Romântico
"Em cada país o romantismo produziu uma nova literatura exuberante com imensas variações entre seus autores porém, em todos eles, persistem algumas características em comum: opulência e liberdade, devoção ao individualismo, confiança na bondade da natureza e no homem "natural" e na fé permanente nas fontes ilimitadas do espírito e da imaginação humanos." - Bradley, Beatty e Long
O romantismo floresceu na Alemanha (Goethe e Schlegel), na França (Madame de Stäel e Chateaubriand) e na Inglaterra (Coleridge e Wordsworth), como resposta aos modelos pretendidos pelos Iluministas, que privilegiavam o racional e o objetivo, em detrimento do emocional e da subjetividade.
Houve, no período, o desenvolvimento da chamada poesia ultrarromântica, dos romances (novels) e dos romances históricos (romances). Tanto a prosa quanto a poesia foram amplamente difundidos no período. Porém, com a ascensão da imprensa e da burguesia comercial, os romances e os periódicos foram ganhando cada vez mais espaço e se popularizaram a ponto de atingir um novo público leitor que até então não tinha acesso à literatura.
Há uma diferença significativa com relação aos padrões poéticos vistos até então no Arcadismo, que se assemelhavam à estrutura camoniana e eram inspirados nas obras greco-romanas. O verso clássico deu espaço ao verso livre, aquele sem métrica e sem entonação, e ao verso branco, sem rima, que possibilitou uma maior liberdade de criação do poeta romântico, agora livre para expressar sua individualidade.
Os temas principais da poesia romântica giram em torno do sentimento de nacionalidade surgido a partir novo do contexto histórico e cultural. A nova pátria, com a declaração da independência, manifestava-se através da exaltação da natureza do país, no retorno ao passado histórico e na criação dos heróis nacionais.
A hipervalorização dos sentimentos e das emoções pessoais (angústias, tristezas, paixões, felicidades etc.) também é característica do movimento, que pressupunha uma olhada para o interior do artista e de suas emoções, em detrimento do racional e do objetivo iluminista. Esse sentimentalismo exagerado está refletido nos enredos que, em sua maioria, consistem em histórias de amor ou, quando este não é o mote principal, em histórias em que o amor e a paixão prevalecem.
A individualidade como refúgio proporciona também a evasão para mundos distantes como forma de escapar a sua realidade. Essa característica está associada, principalmente, aos autores da chamada Geração Mal-do-Século - autores acometidos pela tuberculose (a doença considerada o mal do século XIX) - que almejavam uma vida de prazeres em países e territórios distantes para escapar à dor e à morte.
O culto à natureza ganha traços diferenciados no romantismo, pois, a partir de agora, passa a funcionar não apenas como pano de fundo para as histórias, mas também, passa a exercer profundo fascínio pelos artistas. Além disso, a natureza passa a entrar em contato com o eu romântico, refletindo seus estados de espírito e sentimentos.
Nos romances góticos, surgidos no final do século XVII e desenvolvidos durante o século XIX, a natureza tem um papel muitas vezes hostil e ameaçador na trama, responsável por momentos de tensão. Com o passar do tempo, essa natureza transformou-se em um clichê para histórias de terror na forma de cenários assustadores: noite, névoa, pântanos, neve, árvores retorcidas etc.
Conceitos importantes 
a) Subjetivismo e Individualismo - glorificação do que é particular e íntimo, dos sentimentos.
b) Patriarcalismo - o século XIX também é conhecido por refletir em sua literatura canônica uma sociedade conservadora e patriarcalista. Neste modelo, a família (homem, mulher e filhos) é o núcleo da sociedade burguesa, cujo poder está centrado na figura do pai. Os enredos giram basicamente em torno dela, de suas relações, seus costumes e seus desejos.
Embora no Brasil o modelo de sociedade patriarcal sempre esteve presente desde o início da colonização, no Romantismo que uma explicitação desse modelo, pois ele fazia parte do projeto nacional presente no século XIX, isto é, aparecia na literatura como reflexo da ideologia dominante e para estabelecer os costumes esperados na sociedade e destinados principalmente às mulheres.
Com o advento do Realismo (movimento literário seguinte) muitos autores dedicam-se a criticar este modelo e a retratar (da forma mais realista possível) as mazelas que se encontravam por trás da família burguesa, como a submissão das mulheres, a violência praticada contra esposas e filhas e a própria condição dessas personagens, moedas de troca a fim de garantir a situação financeira das famílias.
c) Eurocentrismo - com a expansão mercantilista, a Europa se transformou na grande potência mundial expandindo seus mercados para além do continente, espalhando sua visão de mundo e acreditando na soberania dos países e no modo de pensar europeu. As consequências causadas pelo choque cultural dos europeus com outras sociedades (principalmente africanas, asiáticas e americanas) criou uma série de estereótipos a respeito desses povos "bárbaros" e a ideia de que o pensamento europeu seria civilizatório moldou as colônias e que foi refletida através da história principalmente na literatura do século XIX.
d) Nacionalismo - com o desenvolvimento de uma burguesia mercantil, os reinos europeus foram se dissolvendo e desenvolvendo, inicialmente, uma ideia de organização política e cultural autônoma. Nas colônias, o sentimento de nacionalidade surgiu como reação à política mercantil restritiva das metrópoles e do desejo de liberdade econômica e política. No Brasil, os escritores produziram obras importantes motivadas pelo ideal nacionalista no sentido de delinear uma literatura que fosse considerada brasileira e não mais submissa à colônia.
Primeira metade do século XIX
As primeiras manifestações do período romântico aconteceram em forma de poesia. Suspiros poéticos e saudades, de Gonçalves de Magalhães inaugura o movimento romântico no Brasil, no ano de 1836. Além disso, diversos outros autores desenvolveram suas temáticas por meio da poesia, o que permitiu aos críticos agruparem as manifestações literárias do gênero em três principais gerações.
Primeira Geração Romântica: nacionalista ou indianista
Nessa geração, os temas principais giram em torno da nova pátria, com menções ao passado histórico do país. Também estão presentes temas como a exaltação do índio, considerado o herói nacional por excelência, que deu nome à geração. O mito do bom selvagem, do filósofo Rousseau é aqui traduzido na figura do índio que, além de valente e defensor da sua terra, é livre e incorruptível. Seus principais autores são Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias e Araújo Porto-Alegre.
Gonçalves de Magalhães (1811-1882)
Gonçalves de Magalhães nasceu em Niterói (RJ) em 1811 e faleceu em Roma, onde exercia cargos diplomáticos, no ano de 1882.
Estudou Medicina e viajou para a Europa, onde exerce a função de diplomata e passa a ter contato com a produção literária do velho continente e funda, em Paris, a revista literária Niterói, revista brasiliense, um dos marcos iniciais do movimento romântico no país.
Suspiros poéticos e saudades (1836) inaugura o movimento com uma literatura ufanista, celebrando a nacionalidade e também com temas religiosos, repudiando a estética clássica e a temática da mitologia pagã (bastante expressiva no período anterior). Além da poesia lírica voltada para o sentimentalismo, nacionalismo e religiosidade, Magalhães escreveu a Confederação dos Tamoios (1856), poema em dez cantos, inspirado nos poemas épicos, em que versa sobre a rebelião dos indígenas contra os colonizadores portugueses ocorrida entre os anos de 1554 e 1567. Nele, o poeta defende os índios como bravos guerreiros empenhados na defesa de sua terra, o que denotaria um forte sentimento nacionalista embora, é claro, ainda não houvesse oficialmente um país. Logo, os índios seriam os primeiros heróis nacionais.
Veja um trecho do poema:
Redobrando de força, qual redobra
A rapidez do corpo gravitante,
Vai discorrendo, e achando em seu arcanos
Novas respostas às razões ouvidas.
Mas a noilte declina, e branda aragem
Começa a refrescar. Do céu os lumes
Perdem a nitidez desfalecendo.
Assim já frouxo o Pensamento do índio,
Entre a vigília e o sono vagueando,
Pouco a pouco se olvida, e dorme, sonha,

Como imóvel na casa entorpecida,
Clausurada a crisálida recobra
Outra vida em silêncio, e desenvolve
Essas ligeiras asas com que um dia
Esvoaçará nos ares perfumados,
Onde enquanto reptil não se elevara;
Assim a alma, no sono concentrada,
Nesse mistério que chamamos sonho,
Preludiando a vista do futuro,
A póstuma visão preliba às vezes!
Faculdade divina, inexplicável
A quem só da matéria as leis conhece.
Saiba Mais:
O escritor José de Alencar escreve, sob o pseudônimo Ig (referência à índia Iguassú), uma série de críticas acerca do poema, de sua temática e da sua composição:
Se me perguntarem o que falta, de certo não saberei responder; falta um quer que seja, essa riqueza de imagens, esse luxo da fantasia que forma na pintura, como na poesia, o colorido do pensamento, os raios e as sombras, os claros e escuros do quadro.
Alencar dizia também que o gênero épico não era compatível com a literatura das Américas, principalmente do Brasil, uma nação ainda em nascimento. Essa série de críticas resultou na publicação Cartas sobre a Confederação dos Tamoios, em 1856, que deu projeção literária ao então jornalista José de Alencar e contribuiu para que ele escrevesse seus principais romances indianistas.
Gonçalves Dias (1823-1864)
Gonçalves Dias nasceu em Caxias (MA) em 1823 e morre em 1864, vítima do naufrágio do navio Ville de Boulogne quando retornava da Europa para o Brasil.
Gonçalves Dias nasceu em Caxias, no Maranhão e, com quinze anos, vai a Coimbra estudar Direito. Longe do Brasil, toma contato com poetas portugueses que cultivavam a Idade Média. É considerado o primeiro poeta de fato brasileiro por dar vazão aos sentimentos de um povo com relação à pátria.
Em 1843 escreve seu famoso poema Canção do Exílio, onde se percebe algumas das principais características do Romantismo: saudosismo, nacionalismo, exaltação da natureza, visão idealizada da pátria e religiosidade. Veja:
Canção do Exílio
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossas flores têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar - sozinho, à noite –
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Também fazem parte de seu trabalho à poesia indianista, representada pelo conhecido I-Juca Pirama, e a poesia lírica, pelo poema Se se morre de amor!
O poema I-Juca Pirama é dividido em dez cantos e conta a história de um guerreiro tupi capturado pela tribo inimiga, os Timbiras. Como seu pai estava velho e doente, o guerreiro chora e pede clemência à tribo para que sua vida seja poupada e ele possa voltar à companhia do velho. Ao saber disso, o pai, decepcionado, alega que seu filho é fraco e covarde por não ter aceitado seu destino de morrer lutando como um verdadeiro guerreiro nas mãos da tribo inimiga.
Veja abaixo um trecho do poema indianista:
No meio das tabas de amenos verdores, 
Cercadas de troncos — cobertos de flores, 
Alteiam-se os tetos d’altiva nação; 
São muitos seus filhos, nos ânimos fortes, 
Temíveis na guerra, que em densas coortes 
Assombram das matas a imensa extensão.
São rudos, severos, sedentos de glória, 
Já prélios incitam, já cantam vitória, 
Já meigos atendem à voz do cantor: 
São todos Timbiras, guerreiros valentes! 
Seu nome lá voa na boca das gentes, 
Condão de prodígios, de glória e terror!
(...)
Da tribo pujante, 
Que agora anda errante 
Por fado inconstante, 
Guerreiros, nasci; 
Sou bravo, sou forte, 
Sou filho do Norte; 
Meu canto de morte, 
Guerreiros, ouvi.
(...)
Eu era o seu guia 
Na noite sombria, 
A só alegria 
Que Deus lhe deixou: 
Em mim se apoiava, 
Em mim se firmava, 
Em mim descansava, 
Que filho lhe sou.
(...)
"Tu choraste em presença da morte? 
Na presença de estranhos choraste? 
Não descende o cobarde do forte; 
Pois choraste, meu filho não és! 
Possas tu, descendente maldito 
De uma tribo de nobres guerreiros, 
Implorando cruéis forasteiros, 
Seres presa de vis Aimorés.
(...)
"Um amigo não tenhas piedoso 
Que o teu corpo na terra embalsame, 
Pondo em vaso d’argila cuidoso 
Arco e frecha e tacape a teus pés! 
Sê maldito, e sozinho na terra; 
Pois que a tanta vileza chegaste, 
Que em presença da morte choraste, 
Tu, cobarde, meu filho não és."
Saiba Mais:
O ritmo do poema lembra o som de tambores, denotando o aspecto guerreiro das tribos indígenas e criando um clima de tensão no enredo, acompanhando os acontecimentos da relação entre o pai e o filho.
Segunda Geração Romântica: mal-do-século
Inspirados nas obras dos poetas Lord Byron, Goethe, Chateaubriand e Alfred de Musset, os autores dessa geração também são conhecidos como "byronianos". As principais características da geração são: o individualismo, egocentrismo, negativismo, dúvida, desilusão, tédio e sentimentos relacionados à fuga da realidade, que caracterizam o chamado ultrarromantismo. São temas recorrentes nas obras dos autores da segunda geração: a idealização da infância, a representação das mulheres virgens sonhadas e a exaltação da morte. Seus principais poetas são Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Junqueira Freire e Fagundes Varela.





 Quem foi...
Lord Byron (1788 - 1824)
http://www.soliteratura.com.br/romantismo/imagens/byron.jpg
George Gordon Byron foi um poeta romântico inglês que influenciou toda uma geração de escritores com sua poesia ultrarromântica. A ele estão associados termos como o spleen, que significa tédio, mau humor e melancolia, geralmente causados por amores não correspondidos ou pela descrença na vida em razão da aproximação da morte, temáticas comuns na poesia ultrarromântica.
De família aristocrática (porém, com dívidas), passava a vida a escrever poesia e a gastar dinheiro, vivendo no ócio. Suas principais obras são Horas de Lazer (1870), A Peregrinação de Childe Harrold (1812-1818) e Don Juan (1819-1824).
 Álvares de Azevedo (1831 - 1852)
Álvares de Azevedo nasceu em São Paulo em 1831 e faleceu, vítima da tuberculose, em 1852.
Poeta romântico por excelência, Álvares de Azevedo nasceu em São Paulo e estudou na Faculdade de Direito, porém, não chegou a concluir o curso. Faleceu jovem, aos 21 anos, vítima da tuberculose e da infecção resultante de um acidente de cavalo. A partir de então, desenvolveu verdadeira fixação com a própria morte, escrevendo a respeito da passagem do tempo, do sentido da vida e do amor - esse último, jamais realizado.
Seu livro de poesias, Lira dos Vinte Anos (publicada postumamente em 1853), carrega consigo a melancolia de um poeta empenhado em expressar seus sentimentos mais profundos. O conjunto de poesias também evidencia um poeta sensível, imaginativo e harmonioso.
Pode-se dizer que sua obra possui características góticas, pois retratam paisagens sombrias, donzelas em perigo, personagens misteriosas, envoltas em vultos e véus entre outros.
A frustração presente em sua obra é amenizada apenas através da lembrança da mãe e da irmã. Além disso, a perspectiva da morte, apesar de assustadora, traz conforto por saber que cessará a dor física causada pela doença e pelos sofrimentos amorosos do poeta. Veja no poema abaixo:
Se eu morresse amanhã!

Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!
Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que amanhã!
Eu pendera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!

Que sol! que céu azul! que dove n'alma
Acorda a natureza mais loucã!
Não me batera tanto amor no peito,
Se eu morresse amanhã!
Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!
Além de poeta, Álvares de Azevedo produziu a peça de teatro Macário (1852), escrita após haver sonhado com o diabo. A peça conta a história de um personagem que, em uma viagem de estudos, faz amizade com um desconhecido e descobre ser ninguém mais, ninguém menos que o próprio satã. Não há menções sobre o nome da cidade em que eles se encontram, porém, há referências diretas à cidade de São Paulo. Assim, o poeta aproveita para fazer uma crítica à devassidão na qual a cidade estava imersa.
Azevedo também escreveu um romance chamado Noite na Taverna (publicada postumamente em 1855), uma narrativa composta por cinco histórias paralelas sobre cinco homens que relatam, em um bar, histórias de terror vivenciadas pelos mesmos. São eles: Solfieri, Bertram, Gennaro, Claudius Hermann e Johann. Os nomes são claramente europeus e fazem referência aos romances românticos produzidos naquele continente (especialmente os italianos e os alemães), bem como sua temática macabra, inspirada nos romances góticos.
Casimiro de Abreu (1839 - 1860)
Casimiro de Abreu nasceu em Capivary (RJ) em 1839. Faleceu na cidade de Nova Friburgo no ano de 1860.
Nasceu em Capivary (RJ) e aos quatorze anos embarcou com o pai para Portugal, onde escreveu a maior parte de sua obra, em que denota a saudade da família e da terra nativa. Poeta da segunda geração romântica, Casimiro escreveu poemas onde o sentimento nativista e a busca pela inocência da infância estão presentes. Pertenceu, graças à amizade com Machado de Assis, à então recém fundada Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira de número seis. Vítima da tuberculose faleceu na cidade de Nova Friburgo (RJ).
Os aspectos formais de sua obra são considerados fracos, porém, sua temática revela grande importância no desenvolvimento da poesia romântica para as letras brasileiras. Sua linguagem simples, acompanhada por um ritmo fácil, rima pobre e repetitiva revelam um poeta empenhado na expressão dos sentimentos saudosistas com relação à pátria e à infância. Essa última, em tom de profunda nostalgia, revela um tempo em que a vida era mais prazerosa, junto à natureza e longe dos afazeres e das responsabilidades da vida adulta.
Sua produção poética está reunida no volume As primaveras (1859) cujo poema mais conhecido é Meus oito anos, em que o poeta canta a saudade da infância vivida:
 Meus oito anos
Oh que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras,
A sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais.
Como são belos os dias
Do despontar da existência
Respira a alma inocência,
Como perfume a flor;
O mar é lago sereno,
O céu um manto azulado,
O mundo um sonho dourado,
A vida um hino de amor!
(...)
Saiba Mais:
O poema Meus oito anos é um dos mais populares da literatura brasileira, sendo parodiado por diversos autores, principalmente pelos poetas do período conhecido como Modernismo.
Terceira geração romântica: condoeira
A terceira geração romântica é caracterizada pela poesia libertária influenciada, principalmente, pela obra político-social do escritor e poeta francês Victor Hugo, que originou a expressão "geração hugoana". Além disso, a ave símbolo da geração é o condor, ave que habita o alto das cordilheiras dos Andes, e que representa a liberdade daí o nome da geração ser condoeira. A poesia dessa geração é combativa e prima pela denúncia das condições dos escravos, decorrência do sistema econômico brasileiro, baseado no trabalho escravo. Os poetas dessa geração também clamam por uma poesia social em que a humanidade trabalhe por igualdade, justiça e liberdade.
Seus principais autores são Castro Alves e Sousândrade.
Castro Alves (1847 - 1871)
Nasceu em Curralinho e faleceu em Salvador (ambas na Bahia) em decorrência da tuberculose e de uma infecção no pé causada por acidente em uma caçada.
"Castro Alves do Brasil, hoje que o teu livro puro
torna a nascer para a terra livre,
deixa a mim, poeta da nossa América,
coroar a tua cabeça com os louros do povo.
Tua voz uniu-se à eterna e alta voz dos homens.
Cantaste bem. Cantaste como se deve cantar." -Pablo Neruda
Nasceu em Curralinho e faleceu em Salvador (ambas na Bahia) em decorrência da tuberculose e de uma infecção no pé causada por acidente em uma caçada. Considerado um dos poetas brasileiros mais brilhantes, Castro Alves tem sua obra dividida em duas grandes temáticas: poesia lírico-amorosa e a poesia social e das causas humanas.
Começou a escrever cedo e aos dezessete anos já tinha seus primeiros poemas e peças declamados e encenados. Aos vinte e um já havia conseguido a consagração entre os maiores escritores daquele tempo, como José de Alencar e Machado de Assis. É o patrono número sete da Academia Brasileira de Letras.
Uma das principais características de sua obra é a eloquência, a utilização de hipérboles, de antíteses, de metáforas, comparações grandiosas e diversas figuras de linguagem, além da sugestão de imagens e do apelo auditivo. O poeta também faz referência a diversos fatos históricos ocorridos no país, tais como a Independência da Bahia, a Inconfidência Mineira (presente na peça O Gonzaga ou a Revolução de Minas).
Diferentemente dos poetas da primeira geração, individualistas e preocupados com a expressão dos próprios sentimentos, Castro Alves demonstra preocupação com os problema sociais presentes na sua época. Demonstra também um certo questionamento aos ideais de nacionalidade, pois, de que adiantava louvar um país cuja economia estava baseada na exploração de sua população (mais especificamente dos índios e dos negros)?
A visão do poeta demonstra paixão e fulgor pela vida, diferentemente dos poetas ultrarromânticos da geração precedente.
 Seus trabalhos mais importantes são:
a) poesia lírico-amorosa: a poesia lírico-amorosa está associada ao período em que o poeta esteve envolvido com a atriz portuguesa Eugênia Câmara. Assim, a virgem idealizada dá lugar a uma mulher de carne e osso e sensualizada. No entanto, o poeta ainda é um jovem inocente e terno em face a sua amada corporificada e cheia de desejo.
Seus poemas mais famosos dessa fase estão presentes em sua primeira publicação, Espumas Flutuantes (1870), conjunto de 53 poemas que versam sobre a transitoriedade da vida frente à morte, sobre o amor no plano espiritual e físico, que apela para o sentimental e para o sensual e sensorial. Além disso, o romance com a atriz portuguesa acendeu no poeta o desejo de escrever sobre esperança e desespero.
b) poesia social: poeta da liberdade, Castro denuncia as desigualdades sociais e a situação da escravidão no país, além de solidarizar-se com os negros, que eram trazidos de modo precário dentro dos navios negreiros. Castro clamava à natureza e às entidades divinas para que vissem a injustiça cometida pelos homens sobre os homens e intervissem para que a viagem rumo ao Brasil fosse interrompida.
Graças a sua obra empenhada na denúncia das condições dos negros, ficou conhecido como "o poeta dos escravos", por solidarizar-se com a situação dos que aqui vinham e eram submetidos a todo tipo de trabalho em condições desumanas.
As obras mais importantes dessa fase são:
Vozes D'África: Navio Negreiro (1869)
A Cachoeira de Paulo Afonso (1876)
Os Escravos (1883)
Curiosidades:
(1) A poesia de Castro Alves já demonstra aspectos, temáticas e tendências do movimento chamado Realista, que "nega" os preceitos românticos embora sua obra seja romântica.
(2) Em 1941 o escritor baiano Jorge Amado escreveu o ABC de Castro Alves, uma biografia sobre o poeta e sua obra. Há um trecho que exemplifica bem tanto a poesia amorosa quando a poesia social do poeta baiano:
Este, cuja história vou te contar, foi amado e amou muitas mulheres. Vieram brancas, judias e mestiças, tímidas e afoitas, para os seus braços e para o seu leito. Para uma, no entanto, guardou ele suas melhores palavras, as mais doces, as mais ternas, as mais belas. Essa noiva tem um nome lindo, negra: Liberdade.
Sousândrade (1833 - 1902)
Joaquim de Sousa Andrade, mais conhecido como Sousândrade, nasceu e faleceu no Maranhão, porém, viveu grande parte da sua vida entre o Brasil, a Europa e os Estados Unidos.
            Autor de vasta obra, seu trabalho mais importante é fruto de suas viagens, responsáveis pelo contato com realidades diferentes ao redor do mundo. O aspecto que mais o diferencia dos outros poetas brasileiros é a originalidade da sua poesia, principalmente com relação à ousadia de vocabulário com o uso de palavras em inglês e neologismos, bem como de palavras indígenas. Além disso, a sonoridade dos poemas também rompe com a métrica e com o ritmo tradicionais, o que despertou a atenção da crítica literária do século XX.
Seu trabalho, então esquecido, foi resgatado na década de 1960 pela crítica literária, principalmente pelos poetas Haroldo e Augusto de Campos, responsáveis pela análise de sua obra.
Seu poema mais famoso é o Guesa Errante, escrito entre 1858 e 1888, composto por treze cantos e inspirado em uma lenda andina na qual um adolescente, o Guesa, seria sacrificado em oferecimento aos deuses. O índio, porém, consegue fugir e passa a morar em uma das maiores ruas de Nova York, a Wall Street. Os sacerdotes que o perseguiam estão agora transformados em capitalistas da grande cidade de Nova Iork e ainda querem o sangue do Guesa, que vê o capitalismo consolidado como uma doença.
Dotada de pinceladas autobiográficas, o Guesa Errante denuncia o drama dos povos indígenas à exploração dos povos europeus.
Segunda metade do século XIX
O desenvolvimento da prosa no período romântico coincide com o desenvolvimento do romance como um gênero novo que, no Brasil, chegou graças à influência dos romances europeus e do surgimento dos jornais -- que publicavam, diariamente, os folhetins, isto é, capítulos de histórias que compunham um romance.
As primeiras manifestações no gênero estavam empenhadas na descrição dos costumes da classe dominante na cidade do Rio de Janeiro, que agora vivia um grande período de urbanização, e de algumas amenidades da vida no campo. Ou então, apresentavam personagens selvagens, concebidos pela ideologia e imaginação do período romântico como idealização do herói nacional por excelência: o índio.
Cronologicamente, o primeiro romance romântico publicado no Brasil foi O filho do pescador (1843), de Teixeira de Souza, porém, como o romance apresenta enredo confuso e foi considerado pelo público como "sentimentalóide", A Moreninha (1844), de Joaquim Manoel Macedo, viria a ser considerado o primeiro romance efetivamente brasileiro por receber uma maior aceitação do público e por definir as linhas dos romance brasileiro.
Os principais autores do período são: Joaquim Manoel de Macedo, Manuel Antônio de Almeida, José de Alencar e, constituindo o teatro nacional, Martins Pena.
 Autores:
Joaquim Manuel de Macedo (1820 - 1882)
É considerado um dos romancistas mais importantes do período por ter inaugurado o romance romântico brasileiro, em termos de temática, estrutura e desenvolvimento de enredo. Este último se desenvolve da seguinte maneira, com o seguinte movimento: descrição do ambiente, surgimento de um conflito, resolução do mistério e restabelecimento do ambiente pacífico inicial.
Seu principal romance é A Moreninha (1844), em que estão representados os costumes da elite carioca da década de 1840, bem como suas festas e tradições (viajar para o litoral era um costume das famílias pertencentes à elite), e hábitos da juventude burguesa do Rio de Janeiro. Ainda, segundo o professor Roger Rouffiax, "a fidelidade com que o romancista descreveu os ambientes e costumes serviu como um documentário sobre a vida urbana na capital do Império."
Outras obras do autor são O Moço Loiro (1845) e A Luneta Mágica (1869).
 Curiosidades:
(1) A Moreninha é um exemplo de Metalinguagem, pois é um romance supostamente escrito por um de seus personagens. A metalinguagem é caracterizada pela propriedade que a língua tem de falar sobre si mesma e de mesclar o que existe na ficção com a realidade.
(2) Muitos dos aspectos encontrados no romance são considerados clichês nos dias de hoje. Isto é, são situações e/ou frases que se tornaram lugar-comum na literatura principalmente no que diz respeito às histórias de amor, criadas pelos romancistas brasileiros cujos enredos sempre terminam em um final feliz.
Esse é um dos motivos pelo qual Joaquim Manoel Macedo é considerado o fundador do romance brasileiro, por ter iniciado um gênero novo e incluído todo um estilo e situações novas na literatura brasileira.
Manuel Antônio de Almeida (1830 - 1861)
Nascido e falecido no Rio de Janeiro, Manuel Antônio de Almeida foi um importante fomentador das letras brasileiras. Seu romance mais famoso, Memórias de um Sargento de Milícias, foi publicado em formato de folhetim entre os anos de 1852 e 1853 no periódico Correio Mercantil do Rio de Janeiro. A ideia para a composição do romance surgiu após ouvir as histórias de um colega de jornal, um antigo sargento comandado pelo Major que inspirou o personagem homônimo do livro.
O romance é uma obra inovadora para sua época pois rompe com o retrato exclusivo da vida e dos hábitos da aristocracia para retratar o ambiente e a linguagem do povo em sua simplicidade. Além disso, Leonardinho, o protagonista, não é o protótipo do herói romântico, mas sim, um menino travesso que mais tarde se transforma em um jovem pícaro, dado à vadiagem e à malandragem no lugar de procurar uma ocupação.
O gênero picaresco
O gênero picaresco, na literatura, é caracterizado pela narrativa de um pícaro, sinônimo para malandro. O personagem é, geralmente, um garoto inocente e puro que é corrompido e desiludido à medida em que cresce e toma contato com a realidade do mundo adulto. Nas suas origens espanholas e medievais, o personagem sempre termina desiludido e adaptado às condições de um mundo na miséria ou em um casamento que não lhe proporciona nenhum tipo de prazer. No entanto, no romance brasileiro o "pícaro" Leonardinho difere um pouco do espanhol por não ser um personagem tão inocente e por terminar feliz em sua vida adulta e em seu casamento.
Se há tantas rupturas, o que faz de Manoel Antônio de Almeida um escritor do romantismo brasileiro? Embora haja muitas convenções do romance romântico em sua obra, tais como o tom irônico e satírico do narrador, o estilo frouxo, a linguagem descuidada e o final feliz do romance, o livro inova por envolve personagens das classes mais baixas da sociedade, o clero e a milícia além de não idealizar seus personagens.
O compadre quer ver Leonardinho instruído pois quer vê-lo como padre ou formado em Direito, diferentemente do romance pícaro original, em que os protagonistas precisam fazer trabalhos manuais (geralmente nas posições mais baixas como criado ou ajudante de cozinheiro) para garantir seu sustento. Além disso, ao final do romance, ele casa com seu amor e recebe "cinco heranças" sem precisar trabalhar para isso. O que faz de Leonardinho um pícaro com características à parte e o transforma em mais um tipo brasileiro.
O romance é considerado por alguns teóricos como o primeiro romance realmente de costumes brasileiro por retratar a sociedade em toda a sua simplicidade e Manoel Antonio de Almeida é por vezes considerado um autor de transição entre o Romantismo e o período seguinte, o Realismo. Além disso, o autor traz para o enredo elementos que até então não eram retratados pelos romancistas, como acampamentos de ciganos e bares frequentados pelas camadas sociais mais baixas.
José de Alencar (1829 - 1877)
Primeiro escritor romântico a desenvolver o romance com temas mais variados e abrangentes do que seus sucessores. Alencar empenhou-se em retratar diversas esferas e incluir o maior número de tipos de personagens até então vistos na literatura brasileira. Alencar não se contentou somente com a sociedade burguesa carioca de seu tempo mas, também, empenhou-se nos tipos brasileiros como o gaúcho e o sertanejo. Sua intenção era de retratar um painel geral do país, de norte a sul, além de tentar estabelecer uma linguagem brasileira.
Segundo o crítico José de Nicola em seu Literatura Brasileira: das origens aos nossos dias (ed. Scipione, 2001), a obra de José de Alencar é um retrato de suas condições políticas e sociais: grande proprietário de terras, político e conservador, monarquista, nacionalista exagerado e escravocrata. O romancista transparece essas posições em sua obra, como se pode perceber na maneira como retrata os índios e a sexualidade feminina em seus romances.
Os críticos costumam dividir em quatro as fases principais de sua produção:
a) urbana ou social: Cinco Minutos (1856), A viuvinha (1860), Lucíola (1862), Diva (1864), A pata da gazela (1870), Sonhos d'ouro (1872), Senhora (1875), Encarnação (1893);
As características principais dos romances urbanos ou sociais são:
- final feliz ou ideal;
- prevalência do amor verdadeiro;
- protagonistas femininas (que refletem um "ideal de feminilidade");
- retrato das relações familiares;
- ambiente doméstico;
- casamentos;
- questões financeiras (heranças, dotes, títulos, falências...);
Os três romances mais conhecidos dessa fase são: Lucíola (1862), Diva (1864) e Senhora (1875) que fazem parte da chamada trilogia "perfis de mulheres". Eles retratam uma sociedade elegante marcada pela ascensão da burguesia carioca empenhada em seguir a moda das cidades europeias, mais notadamente de Paris, no que diz respeito tanto às vestimentas quanto à vida cultural no período do Segundo Reinado.
Os enredos, dramáticos, seguem uma estrutura tradicional das histórias de amor: situação inicial - conflito/quebra - reparação/solução. O drama quase sempre gira em torno de um jovem casal que precisa enfrentar obstáculos sociais, geralmente envolvendo questões financeiras, se quiserem ficar juntos.
b) indianista: O Guarani (1857), Iracema (1865), Ubirajara (1874);
Características principais:
- nacionalistas;
- exaltação da natureza;
- idealização do índio;
- temas históricos;
- resgate de lendas;
- índio como um herói, europeizado, quase medieval;
- contato do índio com o europeu colonizador;
Os romances mais conhecidos da fase são O Guarani (1857), Iracema (1865) e Ubirajara (1874).
O Brasil, agora uma nação independente, precisava definir seus heróis nacionais e os autores indianistas viam o índio como o personagem ideal por este ser quem primeiro expressou amor às terras brasileiras, defendendo seu território e seu povo contra os colonizadores europeus. Outros autores, como o Padre Anchieta, Basílio da Gama e Gonçalves Dias já haviam versado sobre a singularidade do índio brasileiro, porém, com o desenvolvimento da prosa e a popularização dos romances de folhetins, Alencar pôde não apenas criar histórias mas também desenvolver e difundir junto aos seus leitores um sentimento de nacionalidade mais abrangente e que tocasse em todos os seus leitores baseando-se nos heróis medievais europeus, símbolos de honra e bravura.
c) histórico: As Minas de Prata (1865), Guerra dos Mascates (1873);
d) regionalista: O gaúcho (1870), O Tronco do Ipê (1871), Til (1872), O Sertanejo (1875);
Nesses romances, Alencar procurou dar conta da diversidade brasileira e das regiões que se encontravam distantes da corte e das principais cidades que receberam forte influência europeia. O autor desejava cobrir os territórios de maneira a mostrar como a vida de seus habitantes estava intimamente ligada ao meio físico no qual travavam contato.
Nesses romances, os homens recebem os papéis de destaque, em detrimento das personagens femininas, diversamente retratadas nos romances urbanos e sociais.
Porém, há controvérsias sobre o retrato feito por Alencar de seus homens: quando trata do nordestino e do sertanejo, Alencar consegue ser fiel à realidade por conhecer mais profundamente a região e seus habitantes. Porém, quando retrata o gaúcho o autor incorre em uma série de falhas, provenientes da falta de familiaridade com o tipo retratado e com a distância que separava Alencar do sul do país.
Os romances mais conhecidos desta fase são: O gaúcho (1870), O Tronco do Ipê (1871), Til (1872) e O Sertanejo (1875);
Curiosidade: no ano de 1856 Alencar publica uma série de cartas em resposta ao poema A Confederação dos Tamoios (1857), de Gonçalves de Magalhães. A coletânea de oito cartas, pubilcada sob o título de Cartas sobre a confederação dos tamoios pretendia criticar o poema de Magalhães que, na época, era protegido do imperador Dom Pedro II. A crítica recai principalmente no modelo escolhido por Magalhães para seu poema, o épico, um gênero clássico que não seria adequado para cantar o índio brasileiro. Além disso, critica a fraca musicalidade do poema, a falta de "arte" na descrição da natureza brasileira e dos costumes indígenas. No ano seguinte (1857), Alencar publica seu primeiro romance indianista, O Guarani como resposta ao poema de Magalhães.
Demais autores do romantismo:
Embora menos expressivos quando se trata do cânone literário brasileiro, os autores abaixo são importantes pois também contribuíram para a produção literária do período. São eles:
a) Bernardo Guimarães (1827 - 1884)
http://www.soliteratura.com.br/romantismo/imagens/bernardo-guimaraes.jpg
Seu livro mais conhecido é A escrava Isaura (1875), romance com pretensões abolicionistas que conta a história de Isaura, uma escrava branca, nobre e educada que é perseguida por Leôncio, seu senhor, um homem marcado pelos vícios sociais. A moça é salva pelo herói Álvaro, que a retira das garras do vilão.
Embora aborde a temática escravista, o romance mostra uma ideologia patriarcal, ao retratar uma escrava branca e que segue a educação dos moldes da elite. A questão dos escravos aparece de maneira superficial, não revelando a verdadeira condição dos negros que eram submetidos ao sistema social escravista.
Escreveu também outros romances, como O Seminarista (1872) e O Garimpeiro (1872).
b) Maria Firmina dos Reis (1825 - 1917)
Com relação à temática escravista, há outros romances na literatura brasileira que abordam a questão com uma visão mais acurada da realidade vivida pelos escravos, como é o caso do romance Úrsula (1859) de Maria Firmina dos Reis, considerado o primeiro romance abolicionista da literatura brasileira. Além disso, o romance é considerado o primeiro de autoria de uma afrodescendente e o primeiro romance de autoria feminina de nossa literatura.
No entanto, como as mulheres que se dedicavam à escrita eram vistas com preconceito pelos olhos dos escritores (pois as Letras no Brasil sempre foram um território predominantemente masculino), a autora se absteve de publicar Úrsula com seu nome verdadeiro e optou por usar o pseudônimo "Uma Maranhense".
Seu romance pode ser considerado inovador pois pela primeria vez utiliza a prosa para as denúncias de uma sociedade patriarcal sob o aspecto de suas principais vítimas: a mulher e o negro. Diferentemente dos escritores do romantismo, que denunciavam a mesquinhez das relações pessoais em uma sociedade burguesa (como é o caso de José de Alencar), Maria Firmina dos Reis denuncia o que estava por trás dessas relações, isto é, a dominação e a exploração das mulheres e dos negros pelo marido e pelo senhor.
Educadora preocupada com a literatura e com a educação, a autora também foi professora e, depois de aposentada, fundou a primeira escola mista do estado. É responsável por uma série de poemas e contos no periódico literário Semanário Maranhense e em outros jornais, além do livro de poesias Cantos à beira-mar (1871) e um diário, publicado somente em 1975 pelo historiador José Nascimento Moraes Filho.
 Saiba mais:
pseudônimo -- nome fictício utilizado por um autor ou uma autora para velar sua verdadeira identidade. A prática era muito utilizada pelas mulheres que resolviam "se aventurar" no terreno das Letras, porém, sem expor o nome de seu marido e sua família pois a atividade da escrita pelas mulheres era vista com preconceito pelos homens.
c) Alfredo Taunay (1842 - 1899)
http://www.soliteratura.com.br/romantismo/imagens/alfredo-taunay.jpg
Autor do romance Inocência (1872), considerado um romance romântico regionalista, Visconde de Taunay empenhou-se em descrever o cenário sertanejo e a retratar a vida no campo. Inocência é uma moça que, por imposição do pai autoritário, deve se casar com Manecão, um sertanejo bruto e negociante de gado criado. A moça adoece e é salva por Cirino, estudante de farmácia, e os dois se apaixonam, convergindo em um final trágico.
d) Franklin Távora (1842 - 1888)
http://www.soliteratura.com.br/romantismo/imagens/franklin-tavora.jpg
Autor também empenhado no retrato da realidade nordestina e do cangaceiro, evidenciando a vida com as secas no sertão. Acredita que o Norte ainda tem muito o que oferecer para a formação da literatura brasileira, tendo em vista que, diferentemente do Sul do país, ainda não foi totalmente invadido, e ainda possui muito o que ser explorado. O Cabeleira (1876), seu romance mais famoso, trata do cangaceiro José Gomes (o Cabeleira). A narrativa, embora com tons realistas e combativa, recai na estrutura melodramática dos romances românticos. O Cabeleira, ao reencontrar seu amor de infância, Luisinha, abandona sua vida de criminoso e dispõe-se a total regeneração pelo amor da amada. A moça, porém, morre de uma enfermidade e o cangaceiro acaba preso e enforcado na prisão.

RESUMO
 O Romantismo: século XIX
 CONTEXTO HISTÓRICO
 - Revolução da Imprensa e ascenção do romance;
 - Vinda da Família Real para o Brasil (em 1808);
 - Independência do Brasil (em 1822).
 CARACTERÍSTICAS
 - Individualismo;
 - Subjetivismo;
 - Verso livre e verso branco;
 - Sentimento de nacionalidade;
 - Culto à natureza.
 PRINCIPAIS AUTORES
 Poesia
 1a Geração Romântica: Nacionalista ou Indianista
 - Gonçalves de Magalhães
 - Gonçalves Dias
 - Araújo Porto-Alegre
 2a Geração Romântica: Mal do Século
 - Álvares de Azevedo
 - Casimiro de Abreu
 - Junqueira Freire
 - Fagundes Varela
 3a Geração Romântica: Condoreira
 - Castro Alves
 - Sousândrade
 Prosa
 - Joaquim Manoel Macedo
 - Manoel Antônio de Almeida
 - José de Alencar





Nenhum comentário:

Postar um comentário