Quinhentismo é a denominação genérica de todas as
manifestações literárias ocorridas no Brasil durante o século XVI, no momento
em que a cultura europeia foi introduzida no país. Note que, nesse período,
ainda não se trata de literatura genuinamente brasileira, a qual revele visão
do homem brasileiro. Trata-se de uma literatura ocorrida no Brasil, ligada ao
Brasil, mas que denota a visão, as ambições e as intenções do homem europeu
mercantilista em busca de novas terras e riquezas. As manifestações ocorridas
se prenderam, basicamente, à descrição da terra e do índio, ou a textos
escritos pelos viajantes, jesuítas e missionários que aqui estiveram.
CONTEXTO HISTÓRICO
O
fim da Idade Média é marcado pelo Renascimento, período entre os séculos XV e
XVI que trouxe profundas transformações na forma de pensar e ver o mundo. O
Renascimento significou uma ruptura com o mundo feudal, baseado na fé e na
religião, pois defende a crença no homem e na razão. Nesse período, de intensa
atividade cultural e científica, o homem europeu fez coisas inimagináveis até
então.
Quando
os navegadores europeus chegaram ao Oriente pelo mar, por exemplo, chegaram
também à conclusão de que a Terra era redonda. E mais: descobriram que os
oceanos não eram habitados por monstros e dragões. Além disso, a formulação do
heliocentrismo significou um golpe para os dogmas da Igreja. Segundo essa
teoria, o Sol era o centro do Universo, e não a Terra, como queriam os
religiosos. Grandes feitos como esses fizeram com que o Homem se sentisse tão
poderoso quanto Deus.
Este
desenho de Leonardo da Vinci, também conhecido como o Cânone das proporções
humanas, demonstra o interesse de artistas e cientistas do Renascimento
pelo Homem.
A produção literária no Brasil-Colônia
O
Brasil foi colônia portuguesa durante mais de 3 séculos, que podem ser assim
descritos:
Séc. XVI:
a metrópole procurou garantir o domínio sobre a terra descoberta, organizando-a
em capitanias hereditárias e enviando jesuítas da Europa para catequizar os
índios;
Séc. XVII:
Salvador, na Bahia, tornou-se o centro das decisões políticas e do comércio de
açúcar;
Séc. XVIII:
a região de Minas Gerais transformou-se no centro da exploração do ouro e das
primeiras revoltas políticas contra a colonização portuguesa, entre as quais se
destacou o movimento em que passou a se configurar como uma produção cultural
independente dos vínculos lusitanos.
Marco inicial:
Carta de Achamento do Brasil,
popularmente conhecida como Carta de Pero Vaz de Caminha, de 1500.
Literatura Informativa
As primeiras manifestações literárias estão delimitadas pelo
seu caráter informativo. A finalidade dos textos, que tinham mais aspecto
histórico do que literário, era narrar e descrever as viagens e os primeiros
contatos com a terra brasileira e seus nativos, informando tudo o que pudesse
interessar aos governantes portugueses.
As
principais produções da literatura informativa do séc. XVI são:
·
Carta
de Achamento do Brasil (1500) – de Pero Vaz de Caminha;
·
Diário
de navegação (1530) – de Pero Lopes de Sousa;
·
Tratado
da terra do Brasil e a História
da Província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos de Brasil (1576) – de
Pero de Magalhães Gândavo;
·
Tratado
descritivo do Brasil (1587) – de Gabriel Soares de Sousa;
·
Diálogos
das grandezas do Brasil (1618) – de Ambrósio Fernandes
Brandão;
·
As cartas dos missionários jesuítas
escritas nos dois primeiros séculos de catequese;
·
História
do Brasil (1557) – de Hans Staden;
·
Viagem
à terra do Brasil (1578) – de Jean de Léry.
Literatura dos Jesuítas
Os jesuítas vindos ao Brasil com a missão de catequizar os
índios deixaram inúmeras cartas, tratados descritivos, crônicas históricas e
poemas. Naturalmente, toda essa produção está diretamente relacionada à
intenção catequética de seus autores, entre os quais se destacam os padres
Manuel da Nóbrega, Fernão Cardim e, principalmente pelas qualidades literárias,
José de Anchieta.
(1534 – 1597)
Chegou
ao Brasil em 1553, com 19 anos, e, com o padre Manuel da Nóbrega, fundou, no
planalto de Piratininga, um colégio que se tornou o núcleo da futura cidade de
São Paulo.
Tendo em vista a catequese, Anchieta escreveu vários tipos de
textos com finalidade pedagógica, como poemas, hinos, canções e autos (gênero
teatral), além de cartas que enviava aos superiores dando notícias da obra
catequética e dos problemas da ordem. Além disso, o padre chegou a escrever um
dicionário da língua tupi-guarani.
Ao lado dessa produção, há aquelas de interesse puramente
pessoal, que satisfaziam o espírito devoto de Anchieta, como sermões e poemas
em latim. Entretanto, foi com o teatro que ele cumpriu plenamente sua missão
catequética. Para as comemorações de datas religiosas, escrevia e levava ao público
autos que veiculavam de forma amena e agradável a fé e os mandamentos
religiosos, diferentemente da prática discursiva e cansativa dos sermões.
Entre as
peças de teatro da época, destaca-se o Auto de São Lourenço, escrita
pelo padre José de Anchieta. Nela, o autor conta em três línguas (tupi,
português e espanhol) o martírio de são Lourenço, que preferiu morrer queimado
a renunciar a fé cristã. Anchieta tentou conciliar os valores católicos com os
símbolos primitivos dos habitantes da terra e com aspectos da nova realidade
americana. O sagrado europeu ligava-se aos mitos indígenas, sem que isso
significasse contradição, pois as ideias que triunfavam nos espetáculos eram
evidentemente as do padre. A liberdade formal das encenações saltava aos olhos:
o teatro anchietano pressupunha o lúdico, o jogo coreográfico, a cor, o som.
A obra do
padre Anchieta também merece destaque na poesia. Além de poemas didáticos, com
finalidade catequética, também elaborou poemas que apenas revelavam sua
necessidade de expressão. Os poemas mais conhecidos de José de Anchieta são:
“Do Santíssimo Sacramento” e “A Santa Inês”. Veja, abaixo, um trecho do poema:
A Santa Inês
Cordeirinha linda,
Como folga¹ o povo, Porque vossa vinda Lhe dá lume² novo!
Cordeirinha santa,
De Jesus querida,
Vossa santa vida
O Diabo espanta.
Por isso vos canta
Com prazer o povo,
Porque vossa vinda
Lhe dá lume novo.
Nossa culpa escura
Fugirá depressa,
Pois vossa cabeça
Vem com luz tão pura.
Vossa formosura
Honra é do povo,
Porque vossa vinda
Lhe dá lume novo.
|
Virginal cabeça,
Pela fé cortada, Com vossa chegada
Já ninguém pereça;
Vinde mui depressa
Ajudar o povo,
Pois com vossa vinda
Lhe dais lume novo.
Vós sois cordeirinha
De Jesus Formoso;
Mas o vosso Esposo
já vos fez Rainha.
Também padeirinha
Sois do vosso Povo,
pois com vossa vinda,
Lhe dais trigo novo.
¹folga: se alegra
²lume: luz |
Esse poema fala do confronto entre o bem e o mal
com bastante simplicidade: a chegada de Santa Inês espanta o diabo e, graças a
ela, o povo revigora sua fé. A linguagem é clara, as ideias são facilmente
compreensíveis e o ritmo faz com que os versos tenham musicalidade, ajudando o
poeta a envolver o ouvinte e a sensibilizá-lo para sua mensagem religiosa.
EXERCÍCIOS
01-A
literatura informativa, que esteve presente nos primeiros tempos da colonização
brasileira, pode ser definida como:
a) obras
catequéticas dirigidas aos índios.
b) busca
de emancipação da influência portuguesa.
c) descrição
dos costumes dos povos da terra.
d) confirmação
do paganismo dos primeiros colonizadores.
e) descrição
do muito ouro e da muita prata existentes no Brasil
02-Caracterizam
a literatura dos viajantes as afirmativas abaixo, exceto:
a) Os escritos dos viajantes refletem a
visão, os conceitos e os interesses dos europeus em relação às terras do
além-mar.
b) Observa-se a necessidade de informar a
Coroa Portuguesa sobre as potencialidades econômicas da Nov aterra .
c) O conjunto do registro dos viajantes
tem, sobretudo, valor documental e histórico.
d) As crônicas dos viajantes surgiram
como o desdobramento de um processo de mudanças estruturais na Europa.
e) Havia, por parte dos cronistas, uma
preocupação estética, um apuro literário formal.
03-
Nos séculos XVI e XVII, ocorreram no Brasil as chamadas “manifestações
literárias”, representadas sobretudo por cartas, tratados descritivos, relatórios
e textos categóricos. O conjunto dessas manifestações permite afirmar que,
nessa época,
a) já está constituído um sistema
literário de alta expressão.
b) os estilos barroco e o arcádico
disputam a preferência do público leitor.
c) a produção escrita é reveladora de
nossa condição colonial.
d) as teses do indianismo ganham força
entre os escritores.
e) os sentimentos nacionalistas
representam-se em todos os gêneros literários.
04-Entende-se
por literatura informativa no Brasil:
a) a história dos jesuítas que aqui
estiveram no século XVI.
b) as obras escritas com a finalidade de
catequese do indígena.
c) os poemas do Padre José de Anchieta.
d) os sonetos de Gregório de Matos.
e) conjunto de relato de viajantes e
missionários europeus, sobre a natureza e o homem brasileiros.
05-Todas
as alternativas são corretas sobre o Padre José de Anchieta, EXCETO:
a) Foi o mais importante jesuíta em
atividade no Brasil do século XVI.
b) Foi o grande orador sacro da língua portuguesa,
com seus sermões barrocos.
c) Estudou o tupi-guarani, escrevendo uma
cartilha sobre a gramática da língua dos nativos.
d) Escreveu tanto uma literatura de
caráter informativo como de caráter pedagógico.
e) Suas peças apresentam sempre o duelo
entre anjos e diabos.
06- A
carta escrita pelo Padre Manuel da Nóbrega, notificando a chegada da primeira
missão jesuítica, por ele chefiada, em 1549, inaugura que tipo de literatura no
Brasil?
a) Hábitos
da cultura européia.
b) A
das relações estabelecidas entre os românticos.
c) Informativa
dos jesuítas no Brasil.
d) A
das influências que Luís de Camões exerce sobre os escritores de Língua
Portuguesa.
Gabarito:
1
|
2
|
3
|
4
|
5
|
6
|
A
|
E
|
C
|
E
|
B
|
C
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário