quinta-feira, 7 de maio de 2015

QUINHENTISMO NO BRASIL - Professora Ana



Quinhentismo é a denominação genérica de todas as manifestações literárias ocorridas no Brasil durante o século XVI, no momento em que a cultura europeia foi introduzida no país. Note que, nesse período, ainda não se trata de literatura genuinamente brasileira, a qual revele visão do homem brasileiro. Trata-se de uma literatura ocorrida no Brasil, ligada ao Brasil, mas que denota a visão, as ambições e as intenções do homem europeu mercantilista em busca de novas terras e riquezas. As manifestações ocorridas se prenderam, basicamente, à descrição da terra e do índio, ou a textos escritos pelos viajantes, jesuítas e missionários que aqui estiveram.

CONTEXTO HISTÓRICO
O fim da Idade Média é marcado pelo Renascimento, período entre os séculos XV e XVI que trouxe profundas transformações na forma de pensar e ver o mundo. O Renascimento significou uma ruptura com o mundo feudal, baseado na fé e na religião, pois defende a crença no homem e na razão. Nesse período, de intensa atividade cultural e científica, o homem europeu fez coisas inimagináveis até então. 
Quando os navegadores europeus chegaram ao Oriente pelo mar, por exemplo, chegaram também à conclusão de que a Terra era redonda. E mais: descobriram que os oceanos não eram habitados por monstros e dragões. Além disso, a formulação do heliocentrismo significou um golpe para os dogmas da Igreja. Segundo essa teoria, o Sol era o centro do Universo, e não a Terra, como queriam os religiosos. Grandes feitos como esses fizeram com que o Homem se sentisse tão poderoso quanto Deus.
Este desenho de Leonardo da Vinci, também conhecido como o Cânone das proporções humanas, demonstra o interesse de artistas e cientistas do Renascimento pelo Homem.

A produção literária no Brasil-Colônia

O Brasil foi colônia portuguesa durante mais de 3 séculos, que podem ser assim descritos:
Séc. XVI: a metrópole procurou garantir o domínio sobre a terra descoberta, organizando-a em capitanias hereditárias e enviando jesuítas da Europa para catequizar os índios;
Séc. XVII: Salvador, na Bahia, tornou-se o centro das decisões políticas e do comércio de açúcar;
Séc. XVIII: a região de Minas Gerais transformou-se no centro da exploração do ouro e das primeiras revoltas políticas contra a colonização portuguesa, entre as quais se destacou o movimento em que passou a se configurar como uma produção cultural independente dos vínculos lusitanos.
Marco inicial: Carta de Achamento do Brasil, popularmente conhecida como Carta de Pero Vaz de Caminha, de 1500.

 

Literatura Informativa

       As primeiras manifestações literárias estão delimitadas pelo seu caráter informativo. A finalidade dos textos, que tinham mais aspecto histórico do que literário, era narrar e descrever as viagens e os primeiros contatos com a terra brasileira e seus nativos, informando tudo o que pudesse interessar aos governantes portugueses.
As principais produções da literatura informativa do séc. XVI são:
·             Carta de Achamento do Brasil (1500) – de Pero Vaz de Caminha;
·             Diário de navegação (1530) – de Pero Lopes de Sousa;
·             Tratado da terra do Brasil e a História da Província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos de Brasil (1576) – de Pero de Magalhães Gândavo;
·             Tratado descritivo do Brasil (1587) – de Gabriel Soares de Sousa;
·             Diálogos das grandezas do Brasil (1618) – de Ambrósio Fernandes Brandão;
·             As cartas dos missionários jesuítas escritas nos dois primeiros séculos de catequese;
·             História do Brasil (1557) – de Hans Staden;
·             Viagem à terra do Brasil (1578) – de Jean de Léry.

Literatura dos Jesuítas

       Os jesuítas vindos ao Brasil com a missão de catequizar os índios deixaram inúmeras cartas, tratados descritivos, crônicas históricas e poemas. Naturalmente, toda essa produção está diretamente relacionada à intenção catequética de seus autores, entre os quais se destacam os padres Manuel da Nóbrega, Fernão Cardim e, principalmente pelas qualidades literárias, José de Anchieta.
http://tbn0.google.com/images?q=tbn:H85JTUj797_oxM:http://costa_hs.blog.uol.com.br/images/Anchieta1.jpgJosé de Anchieta
(1534 – 1597)
Chegou ao Brasil em 1553, com 19 anos, e, com o padre Manuel da Nóbrega, fundou, no planalto de Piratininga, um colégio que se tornou o núcleo da futura cidade de São Paulo.
       Tendo em vista a catequese, Anchieta escreveu vários tipos de textos com finalidade pedagógica, como poemas, hinos, canções e autos (gênero teatral), além de cartas que enviava aos superiores dando notícias da obra catequética e dos problemas da ordem. Além disso, o padre chegou a escrever um dicionário da língua tupi-guarani.
       Ao lado dessa produção, há aquelas de interesse puramente pessoal, que satisfaziam o espírito devoto de Anchieta, como sermões e poemas em latim. Entretanto, foi com o teatro que ele cumpriu plenamente sua missão catequética. Para as comemorações de datas religiosas, escrevia e levava ao público autos que veiculavam de forma amena e agradável a fé e os mandamentos religiosos, diferentemente da prática discursiva e cansativa dos sermões.
Entre as peças de teatro da época, destaca-se o Auto de São Lourenço, escrita pelo padre José de Anchieta. Nela, o autor conta em três línguas (tupi, português e espanhol) o martírio de são Lourenço, que preferiu morrer queimado a renunciar a fé cristã. Anchieta tentou conciliar os valores católicos com os símbolos primitivos dos habitantes da terra e com aspectos da nova realidade americana. O sagrado europeu ligava-se aos mitos indígenas, sem que isso significasse contradição, pois as ideias que triunfavam nos espetáculos eram evidentemente as do padre. A liberdade formal das encenações saltava aos olhos: o teatro anchietano pressupunha o lúdico, o jogo coreográfico, a cor, o som.
A obra do padre Anchieta também merece destaque na poesia. Além de poemas didáticos, com finalidade catequética, também elaborou poemas que apenas revelavam sua necessidade de expressão. Os poemas mais conhecidos de José de Anchieta são: “Do Santíssimo Sacramento” e “A Santa Inês”. Veja, abaixo, um trecho do poema:
A Santa Inês
Cordeirinha linda,
Como folga¹ o povo,
Porque vossa vinda
Lhe dá lume² novo!
Cordeirinha santa,
De Jesus querida,
Vossa santa vida
O Diabo espanta.
Por isso vos canta
Com prazer o povo,
Porque vossa vinda
Lhe dá lume novo.
Nossa culpa escura
Fugirá depressa,
Pois vossa cabeça
Vem com luz tão pura.
Vossa formosura
Honra é do povo,
Porque vossa vinda
Lhe dá lume novo.

Virginal cabeça,
Pela fé cortada,
Com vossa chegada
Já ninguém pereça;
Vinde mui depressa
Ajudar o povo,
Pois com vossa vinda
Lhe dais lume novo.

Vós sois cordeirinha
De Jesus Formoso;
Mas o vosso Esposo
já vos fez Rainha.
Também padeirinha
Sois do vosso Povo,
pois com vossa vinda,
Lhe dais trigo novo.
¹folga: se alegra
²lume: luz
Esse poema fala do confronto entre o bem e o mal com bastante simplicidade: a chegada de Santa Inês espanta o diabo e, graças a ela, o povo revigora sua fé. A linguagem é clara, as ideias são facilmente compreensíveis e o ritmo faz com que os versos tenham musicalidade, ajudando o poeta a envolver o ouvinte e a sensibilizá-lo para sua mensagem religiosa.

EXERCÍCIOS

01-A literatura informativa, que esteve presente nos primeiros tempos da colonização brasileira, pode ser definida como:
a)    obras catequéticas dirigidas aos índios.
b)    busca de emancipação da influência portuguesa.
c)    descrição dos costumes dos povos da terra.
d)    confirmação do paganismo dos primeiros colonizadores.
e)    descrição do muito ouro e da muita prata existentes no Brasil

02-Caracterizam a literatura dos viajantes as afirmativas abaixo, exceto:
a)    Os escritos dos viajantes refletem a visão, os conceitos e os interesses dos europeus em relação às terras do além-mar.
b)    Observa-se a necessidade de informar a Coroa Portuguesa sobre as potencialidades econômicas da Nov aterra .
c)    O conjunto do registro dos viajantes tem, sobretudo, valor documental e histórico.
d)    As crônicas dos viajantes surgiram como o desdobramento de um processo de mudanças estruturais na Europa.
e)    Havia, por parte dos cronistas, uma preocupação estética, um apuro literário formal.

03- Nos séculos XVI e XVII, ocorreram no Brasil as chamadas “manifestações literárias”, representadas sobretudo por cartas, tratados descritivos, relatórios e textos categóricos. O conjunto dessas manifestações permite afirmar que, nessa época,
a)    já está constituído um sistema literário de alta expressão.
b)    os estilos barroco e o arcádico disputam a preferência do público leitor.
c)    a produção escrita é reveladora de nossa condição colonial.
d)    as teses do indianismo ganham força entre os escritores.
e)    os sentimentos nacionalistas representam-se em todos os gêneros literários.

04-Entende-se por literatura informativa no Brasil:
a)    a história dos jesuítas que aqui estiveram no século XVI.
b)    as obras escritas com a finalidade de catequese do indígena.
c)     os poemas do Padre José de Anchieta.
d)    os sonetos de Gregório de Matos.
e)    conjunto de relato de viajantes e missionários europeus, sobre a natureza e o homem brasileiros.

05-Todas as alternativas são corretas sobre o Padre José de Anchieta, EXCETO:
a)     Foi o mais importante jesuíta em atividade no Brasil do século XVI.
b)    Foi o grande orador sacro da língua portuguesa, com seus sermões barrocos.
c)     Estudou o tupi-guarani, escrevendo uma cartilha sobre a gramática da língua dos nativos.
d)    Escreveu tanto uma literatura de caráter informativo como de caráter pedagógico.
e)    Suas peças apresentam sempre o duelo entre anjos e diabos.
06- A carta escrita pelo Padre Manuel da Nóbrega, notificando a chegada da primeira missão jesuítica, por ele chefiada, em 1549, inaugura que tipo de literatura no Brasil?
a)    Hábitos da cultura européia.
b)    A das relações estabelecidas entre os românticos.
c)    Informativa dos jesuítas no Brasil.
d)    A das influências que Luís de Camões exerce sobre os escritores de Língua Portuguesa.
Gabarito:
1
2
3
4
5
6
A
E
C
E
B
C

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