quinta-feira, 7 de maio de 2015

BARROCO - Professora Ana



A arte barroca, que vigora durante todo o século XVII e chega às primeiras décadas do século XVIII, registra o espírito contraditório de uma época que se divide entre as influências do Renascimento (o materialismo, o paganismo e o sensualismo) e da onda de religiosidade trazida, sobretudo pela Contrarreforma. Como resultado dessas influências, a arte barroca é a expressão das contradições e do conflito espiritual do homem da época.

Contexto Histórico
            Designa-se por Barroco o período que vai de 1580 a 1756. O ano de 1580 é significativo em dois aspectos: assinalada a morte de Camões e com ele, a decadência do rico movimento clássico, e também o fim da autonomia política de Portugal, pois com o desaparecimento do rei D.Sebastião, na África, torna-se herdeiro do trono Felipe II da Espanha, que anexa o reino português a seus domínios.No Brasil, o panorama histórico do período foi marcado por um incremento da política de colonização, com o estabelecimento dos engenhos de cana-de-açúcar na Bahia. Salvador, capital do Brasil, constituiu-se em um núcleo populacional importante e em um centro cultural que, embora tímido, produziu um poeta do porte de Gregório de Matos. Nosso Barroco teve início em 1601, com a publicação de Prosopopéia, de Bento Teixeira, e terminou em 1768, com a publicação das Obras de Cláudio Manuel da Costa, que representou já uma introdução ao Neoclassicismo.
Após o Concílio de Trento, realizado entre os anos de 1545 e 1563 e que teve como consequência uma grande reformulação do Catolicismo, em resposta à Reforma protestante, a disciplina e a autoridade da Igreja de Roma foram restauradas, estabelecendo-se a divisão da cristandade entre protestantes e católicos.
Nos Estados protestantes, onde as condições sociais foram mais favoráveis à liberdade de pensamento, o racionalismo e a curiosidade científica do Renascimento continuaram a se desenvolver. Já nos Estados católicos, sobretudo na Península Ibérica, desenvolveu-se o movimento chamado Contrarreforma, que procurou reprimir todas as tentativas de manifestações culturais ou religiosas contrárias às determinações da Igreja Católica. Nesse período, a Companhia de Jesus passa a dominar quase que inteiramente o ensino, exercendo papel importantíssimo na difusão do pensamento aprovado pelo Concílio de Trento.
O clima geral era de austeridade e repressão. O Tribunal da Inquisição, que se estabelecera em Portugal para julgar casos de heresia, ameaçava cada vez mais a liberdade de pensamento. O complexo contexto sociocultural fez com que o homem tentasse conciliar a glória e os valores humanos despertados pelo Renascimento com as ideias de submissão e pequenez perante Deus e a Igreja. Ao antropocentrismo renascentista (valorização do homem) opôs-se o teocentrismo (Deus como centro de tudo), inspirado nas tradições medievais.
Essa situação contraditória resultou em um movimento artístico que expressava também atitudes contraditórias do artista em face do mundo, da vida, dos sentimentos e de si mesmo; esse movimento recebeu o nome de Barroco. O homem se vê colocado entre o céu e a terra, consciente de sua grandeza, mas atormentado pela ideia de pecado e, nesse dilema, busca a salvação de forma angustiada. Os sentimentos se exaltam, as paixões não são mais controladas pela razão, e o desejo de exprimir esses estados de alma vai se realizar por meio de antíteses, paradoxos e interrogações. Essa oscilação que leva o homem do céu ao inferno, que mostra sua dimensão carnal e espiritual, é uma das principais características da literatura barroca. Os escritores barrocos abusam do jogo de palavras (cultismo) e do jogo de ideias ou conceitos (conceptismo).

Características da linguagem barroca
As características essenciais são o interesse por temas religiosos, os dualismos, que refletem o conflito espiritual do homem barroco, a morbidez como forma de acentuar o sentido trágico da vida, o emprego constante de figuras de linguagem, o uso de uma linguagem requintada. Além dessas características, há que merecem destaque:
Efemeridade do tempo e carpe diem: o homem barroco tem consciência de que a vida terrena é efêmera, passageira, e, por isso, é preciso pensar na salvação espiritual. Mas, já que a vida é passageira, sente, ao mesmo tempo, desejo de aproveitá-la antes que acabe, o que resulta num sentimento contraditório, já que aproveitar a vida implica pecar, e, se há pecado, não há salvação.
Cultismo: rebuscamento formal, caracterizado pelo jogo de palavras e pelo excessivo emprego de figuras de linguagem.
Conceptismo: é o jogo de idéias, constituído pelas sutilezas do raciocínio e do pensamento lógico, por analogias, etc. Embora seja mais comum o cultismo manifestar-se na poesia e o conceptismo na prosa, é perfeitamente normal aparecerem ambos em um mesmo texto.
Na linguagem barroca, tanto na forma quanto no conteúdo, verifica-se uma rejeição constante da visão ordenada das coisas. Os temas são aqueles que refletem os estados de tensão da alma humana, tais como vida e morte, matéria e espírito, amor platônico e amor carnal, pecado e perdão. A construção, por sua vez, acentua e amplia o sentido trágico desses temas, ao fazer uso de uma linguagem de difícil acesso, rebuscada, cheia de inversões e de figuras de linguagem.
Temas frequentes na Literatura Barroca
- fugacidade da vida e instabilidade das coisas;
- morte, expressão máxima da efemeridade das coisas;
- concepção do tempo como agente da morte e da dissolução das coisas;
- castigo, como decorrência do pecado;
- arrependimento;
- narração de cenas trágicas;
- erotismo;
- misticismo;
- apelo à religião.

http://tbn0.google.com/images?q=tbn:LecRyJvIv2oZjM:http://www.eb23-diogo-cao.rcts.pt/Trabalhos/bra500/img/avieir.jpgPadre Antônio Vieira (1608 – 1697)
       Português de origem, Vieira tinha 7 anos quando veio com a família para o Brasil. Na Bahia estudou com os jesuítas; ingressou na ordem da Companhia de Jesus, iniciando seu noviciado com 15 anos. A maior parte de suas obras foi escrita no Brasil e está relacionada com inúmeras atividades que o autor desempenhou como religioso, como conselheiro de D. João IV, rei de Portugal, ou como mediador e representante de Portugal em relações econômicas e políticas com outros países.
Profecia: Vieira escreveu três obras com esse conteúdo: História do futuro, Esperanças de Portugal e Clavis prophetarum.
       Baseado em textos bíblicos e nos textos e profecias do poeta português Bandarra, Vieira acreditava na ressurreição do rei D. João IV, morto em 1656. Essas idéias estão em sua obra Esperanças de Portugal, motivo por que entre 1665 e 1667 foi processado e preso pela Inquisição.
       Entre a vasta produção do autor, que conta com mais de 200 sermões e 500 cartas, destacam-se:
·             Sermão da sexagésima: proferido na Capela Real de Lisboa em 1653, tematiza a arte de pregar;
·             Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda: proferido na Bahia em 1640, coloca-se contrário à invasão holandesa;
·             Sermão de Santo Antônio (aos peixes): proferido no Maranhão em 1654, ataca a escravização de índios;
·             Sermão do mandato: proferido na Capela Real de Lisboa em 1645, desenvolve o tema do amor místico.

O Barroco no Brasil

       A obra considerada tradicionalmente o marco inicial do Barroco brasileiro é Prosopopéia (1601), de Bento Teixeira, um poema que procura imitar Os Lusíadas.
       Os escritores que se destacaram são:
·             na poesia: Gregório de Matos, Bento Teixeira, Botelho de Oliveira e Frei Itaparica;
·             na prosa: Pe. Antônio Vieira, Sebastião da Rocha Pita e Nuno Marques Pereira.

http://tbn0.google.com/images?q=tbn:qsUlHsJxtE745M:http://www.antoniomiranda.com.br/Iberoamerica/brasil/img/gregorio_mattos.jpgGregório de Matos

       É o maior poeta barroco brasileiro e um dos fundadores da poesia lírica e satírica do país. Nasceu, em 1633, em Salvador; estudou no Colégio dos Jesuítas e depois em Coimbra, onde cursou Direito, tornou-se juiz e ensaiou seus primeiros poemas satíricos. Retorna ao Brasil em 1681. Por causa de suas sátiras, Gregório é degredado para Angola. Voltou doente ao Brasil e, impedido de entrar na Bahia, morreu em Recife, em 1696.
       O autor não publicou em vida uma coletânea de seus textos – o que ocasionou inúmeras dificuldades para o reconhecimento da autoria. Esse fato, aliado ao de ele ter plagiado alguns escritores famosos da época, como o espanhol Gôngora, fez com que sua obra ficasse quase inteiramente desconhecida até as primeiras décadas do século XX.
A lírica
Cultivou 3 vertentes da poesia lírica: a religiosa, a amorosa e a filosófica. Como poeta lírico, adequou-se aos temas e aos procedimentos de linguagem freqüentes no Barroco europeu.
A lírica amorosa é fortemente marcada pelo dualismo amoroso carne / espírito, que leva normalmente a um sentimento de culpa no plano espiritual. A mulher, muitas vezes, é a personificação do próprio pecado, da perdição espiritual.
Na lírica filosófica, destacam-se textos que se referem ao desconcerto do mundo e às frustrações humanas da realidade. E também poemas em que predominam a consciência da transitoriedade da vida e do tempo, marcados pelo carpe diem.
A lírica religiosa obedece aos princípios fundamentais do Barroco europeu, fazendo uso de temas como o amor a Deus, a culpa, o pecado e o perdão, o arrependimento, além de constantes referências bíblicas. A língua empregada é culta e apresenta inversões e figuras de linguagem abundantes.

A sátira

É conhecido também como Boca do Inferno, em razão de suas sátiras. A sátira constitui a parte mais original da poesia de Gregório de Matos, pois foge plenamente dos padrões preestabelecidos pelo Barroco e se volta para a realidade baiana do século XVII.
“Que falta nesta cidade?... Verdade
Que mais por sua desonra?... Honra
Falta mais que se lhe ponha?... Vergonha

O Demo a viver se exponha
Por mais que a fama a exalta
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha.

Quem são seus doces objetos?.. Pretos
Tem outros bens mais maciços?... Mestiços
Quais destes lhe são mais gratos?... Mulatos

E que justiça a resguarda?... Bastarda
É grátis distribuída?... Vendida
Que tem, que a todos assusta?... Injusta.

Exercícios


01- (UFRS)Com relação ao Barroco brasileiro, assinale a alternativa incorreta.
a. Os Sermões, do padre António Vieira, elaborados numa linguagem conceptista, refletiram as preocupações do autor com problemas brasileiros da época,por exemplo, a escravidão.
b. Os conflitos éticos vividos pelo homem .do Barroco corresponderam, na forma literária ao uso exagerado de paradoxos e inversões sintáticas.
c. A poesia barroca foi a confirmação, no plano estético, dos preceitos renascentistas de harmonia e equilíbrio, vigentes na Europa no século XVI, que chegaram ao Brasil no século XVII, adaptados, então, à realidade nacional.
d. Um dos temas principais do Barroco é a efemeridade da vida, questão que foi tratada no dilema de viver o momento presente e, ao mesmo tempo, preocupar-se com a vida eterna.
e. A escultura barroca teve no Brasil o nome de António Francisco Lisboa, o Aleijadinho, que, no século XVII, elaborou uma arte de tema religioso com traços nacionais e populares, numa mescla representativa do Barroco.
02-(UFRN) A obra de Gregório de Matos — autor que se destaca na literatura barroca brasileira — compreende
a. poesia épico-amorosa e obras dramáticas.
b. poesia satírica e contos burlescos.
c. poesia lírica, de caráter religioso e amoroso, e poesia satírica.
d. poesia confessional e autos religiosos.
e. poesia lírica e teatro de costumes.

03- (Mack-SP) Assinale a alternativa incorreta:
a. Julgada em bloco, a literatura brasileira do quinhentismo é uma típica manifestação barroca.
b. Na poesia de Gregório de Matos, percebe-se o dualismo barroco: mistura de religiosidade e sensualismo, misticismo e erotismo, valores terrenos e aspirações espirituais.
c. A literatura no Brasil colonial é clássica, tendo nascido pela mão dos jesuítas, com uma intenção doutrinária.
d. Com António Vieira, a estética barroca atinge o seu ponto alto em prosa no Brasil.
e. Não se deve dizer que a literatura seiscentista brasileira seja inferior por ser barroca, mas sim que é uma literatura barroca de qualidade inferior, com exceções raras.

04- Ao Barroco brasileiro pertencem:
a. Camões e Gil Vicente.
b. Manoel B. Oliveira e Gregório de Matos.
c. Sóror Mariana Alcoforado e Gregório de Matos.
d. Gandavo e Camões.
e. Gil Vicente e Manoel B. Oliveira.

05-)(FUVEST-SP)
 “Destarte,enfim,conformes já as fermosas
Ninfas cós seus amados navegantes,
Os ornam de capelas deleitosas
De louro e de ouro e flores abundantes.
As mãos alvas lhe davam como esposas;
Com palavras formais e estipulantes
Se prometem eterna companhia,
Em vida e morte,de honra e alegria.” Quem escreveu a estrofe acima?

a-)Luís de Camões      
b-)Almeida Garrett    
c-)Gil Vicente            
d-)Fernando Pessoa
e-)Antero de Quiental
   
06-(ESANSP)Tem-se a figura do Gigante Adamastor criada pelo poeta:
a-)português;Luís de Camõesem Os lusíadas
b-)brasileiro,Basílio da Gama,em O Uruguai
c-)português,Pe.Antônio Vieira,em Sermão da sexagésima
d-)brasileiro,Mário de Andrade,em Macunaíma
e-)n.d.a

07-Aponte a alternativa incorreta sobre o Sermão da sexagésima:
a-)O autor desenvolve dialeticamente a seguinte tese”A semente é a palavra de Deus”.      
b-)O estilo é barroco e privilegia a corrente conceptista de composição.
c-)O orador discute no sermão cinco causas possíveis que não permitiram a entrada da palavra de Deus no coração dos homens.
d-)Vieira baseia-se em parábolas bíblicas,e sua linguagem se vale de estruturas retóricas clássicas.
e-)Pela sua capacidade de argumentação,Vieira consegue,neste sermão,convencer os indígenas a se converterem.

08-(FUVEST-SO)Sobre o estilo de Coelho Neto:
 “Pode-se mesmo dizer...que o seu maior compromisso é com a linguagem,presa à tradição de prosadores seiscentistas,donde o excessivo aportuguesamento do estilo.”
(Antônio Cândico e J.Aderaldo Castello)
É obra representativa da prosa seiscentista:
a-)Monólogo do vaqueiro,de Gil Vicente.
b-)Os lusíadas,de Camões.
c-)Eurico,presbuto,de Alexandre Herculano.
d-)Nova floresta,de Manuel Bernades.
e-)Frei Luís de Sousa,de Almeida Garrett.

09-(FUVEST-SP)a respeito  do Padre Antônio Vieira,pode-se afirmar que:
a-)Embora vivesse no Brasil,por sua formação lusitana não se ocupou de problemas locais.
b-)Procurava adequar os textos bíblicos às realidades de que tratava.
c-)Dada sua espiritualidade,demonstrava desinteresse por assuntos mundanos.
d-)Em função de seu zelo para com Deus,utilizava-O para justificar todos os acontecimentos políticos e sociais.
e-)Mostrou-se tímido diante dos poderosos.

10-Assinale a incorreta:
O Barroco surgiu como reação aos ideais da Idade Média e à valorização demasiada da Antiguidade clássica,apresentando:
a-)a fusão do teocentrismo com o antropocentrismo
b-)predomínio do equilíbrio em todas as formas artísticas
c-)estilo rebuscado como manifestação de angústia
d-)predomínio de forma,cor e riqueza,em detrimento do conteúdo
e-)a fusão do pecado com o perdão

Gabarito
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
C
C
A
B
A
A
E
D
B
C

QUINHENTISMO NO BRASIL - Professora Ana



Quinhentismo é a denominação genérica de todas as manifestações literárias ocorridas no Brasil durante o século XVI, no momento em que a cultura europeia foi introduzida no país. Note que, nesse período, ainda não se trata de literatura genuinamente brasileira, a qual revele visão do homem brasileiro. Trata-se de uma literatura ocorrida no Brasil, ligada ao Brasil, mas que denota a visão, as ambições e as intenções do homem europeu mercantilista em busca de novas terras e riquezas. As manifestações ocorridas se prenderam, basicamente, à descrição da terra e do índio, ou a textos escritos pelos viajantes, jesuítas e missionários que aqui estiveram.

CONTEXTO HISTÓRICO
O fim da Idade Média é marcado pelo Renascimento, período entre os séculos XV e XVI que trouxe profundas transformações na forma de pensar e ver o mundo. O Renascimento significou uma ruptura com o mundo feudal, baseado na fé e na religião, pois defende a crença no homem e na razão. Nesse período, de intensa atividade cultural e científica, o homem europeu fez coisas inimagináveis até então. 
Quando os navegadores europeus chegaram ao Oriente pelo mar, por exemplo, chegaram também à conclusão de que a Terra era redonda. E mais: descobriram que os oceanos não eram habitados por monstros e dragões. Além disso, a formulação do heliocentrismo significou um golpe para os dogmas da Igreja. Segundo essa teoria, o Sol era o centro do Universo, e não a Terra, como queriam os religiosos. Grandes feitos como esses fizeram com que o Homem se sentisse tão poderoso quanto Deus.
Este desenho de Leonardo da Vinci, também conhecido como o Cânone das proporções humanas, demonstra o interesse de artistas e cientistas do Renascimento pelo Homem.

A produção literária no Brasil-Colônia

O Brasil foi colônia portuguesa durante mais de 3 séculos, que podem ser assim descritos:
Séc. XVI: a metrópole procurou garantir o domínio sobre a terra descoberta, organizando-a em capitanias hereditárias e enviando jesuítas da Europa para catequizar os índios;
Séc. XVII: Salvador, na Bahia, tornou-se o centro das decisões políticas e do comércio de açúcar;
Séc. XVIII: a região de Minas Gerais transformou-se no centro da exploração do ouro e das primeiras revoltas políticas contra a colonização portuguesa, entre as quais se destacou o movimento em que passou a se configurar como uma produção cultural independente dos vínculos lusitanos.
Marco inicial: Carta de Achamento do Brasil, popularmente conhecida como Carta de Pero Vaz de Caminha, de 1500.

 

Literatura Informativa

       As primeiras manifestações literárias estão delimitadas pelo seu caráter informativo. A finalidade dos textos, que tinham mais aspecto histórico do que literário, era narrar e descrever as viagens e os primeiros contatos com a terra brasileira e seus nativos, informando tudo o que pudesse interessar aos governantes portugueses.
As principais produções da literatura informativa do séc. XVI são:
·             Carta de Achamento do Brasil (1500) – de Pero Vaz de Caminha;
·             Diário de navegação (1530) – de Pero Lopes de Sousa;
·             Tratado da terra do Brasil e a História da Província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos de Brasil (1576) – de Pero de Magalhães Gândavo;
·             Tratado descritivo do Brasil (1587) – de Gabriel Soares de Sousa;
·             Diálogos das grandezas do Brasil (1618) – de Ambrósio Fernandes Brandão;
·             As cartas dos missionários jesuítas escritas nos dois primeiros séculos de catequese;
·             História do Brasil (1557) – de Hans Staden;
·             Viagem à terra do Brasil (1578) – de Jean de Léry.

Literatura dos Jesuítas

       Os jesuítas vindos ao Brasil com a missão de catequizar os índios deixaram inúmeras cartas, tratados descritivos, crônicas históricas e poemas. Naturalmente, toda essa produção está diretamente relacionada à intenção catequética de seus autores, entre os quais se destacam os padres Manuel da Nóbrega, Fernão Cardim e, principalmente pelas qualidades literárias, José de Anchieta.
http://tbn0.google.com/images?q=tbn:H85JTUj797_oxM:http://costa_hs.blog.uol.com.br/images/Anchieta1.jpgJosé de Anchieta
(1534 – 1597)
Chegou ao Brasil em 1553, com 19 anos, e, com o padre Manuel da Nóbrega, fundou, no planalto de Piratininga, um colégio que se tornou o núcleo da futura cidade de São Paulo.
       Tendo em vista a catequese, Anchieta escreveu vários tipos de textos com finalidade pedagógica, como poemas, hinos, canções e autos (gênero teatral), além de cartas que enviava aos superiores dando notícias da obra catequética e dos problemas da ordem. Além disso, o padre chegou a escrever um dicionário da língua tupi-guarani.
       Ao lado dessa produção, há aquelas de interesse puramente pessoal, que satisfaziam o espírito devoto de Anchieta, como sermões e poemas em latim. Entretanto, foi com o teatro que ele cumpriu plenamente sua missão catequética. Para as comemorações de datas religiosas, escrevia e levava ao público autos que veiculavam de forma amena e agradável a fé e os mandamentos religiosos, diferentemente da prática discursiva e cansativa dos sermões.
Entre as peças de teatro da época, destaca-se o Auto de São Lourenço, escrita pelo padre José de Anchieta. Nela, o autor conta em três línguas (tupi, português e espanhol) o martírio de são Lourenço, que preferiu morrer queimado a renunciar a fé cristã. Anchieta tentou conciliar os valores católicos com os símbolos primitivos dos habitantes da terra e com aspectos da nova realidade americana. O sagrado europeu ligava-se aos mitos indígenas, sem que isso significasse contradição, pois as ideias que triunfavam nos espetáculos eram evidentemente as do padre. A liberdade formal das encenações saltava aos olhos: o teatro anchietano pressupunha o lúdico, o jogo coreográfico, a cor, o som.
A obra do padre Anchieta também merece destaque na poesia. Além de poemas didáticos, com finalidade catequética, também elaborou poemas que apenas revelavam sua necessidade de expressão. Os poemas mais conhecidos de José de Anchieta são: “Do Santíssimo Sacramento” e “A Santa Inês”. Veja, abaixo, um trecho do poema:
A Santa Inês
Cordeirinha linda,
Como folga¹ o povo,
Porque vossa vinda
Lhe dá lume² novo!
Cordeirinha santa,
De Jesus querida,
Vossa santa vida
O Diabo espanta.
Por isso vos canta
Com prazer o povo,
Porque vossa vinda
Lhe dá lume novo.
Nossa culpa escura
Fugirá depressa,
Pois vossa cabeça
Vem com luz tão pura.
Vossa formosura
Honra é do povo,
Porque vossa vinda
Lhe dá lume novo.

Virginal cabeça,
Pela fé cortada,
Com vossa chegada
Já ninguém pereça;
Vinde mui depressa
Ajudar o povo,
Pois com vossa vinda
Lhe dais lume novo.

Vós sois cordeirinha
De Jesus Formoso;
Mas o vosso Esposo
já vos fez Rainha.
Também padeirinha
Sois do vosso Povo,
pois com vossa vinda,
Lhe dais trigo novo.
¹folga: se alegra
²lume: luz
Esse poema fala do confronto entre o bem e o mal com bastante simplicidade: a chegada de Santa Inês espanta o diabo e, graças a ela, o povo revigora sua fé. A linguagem é clara, as ideias são facilmente compreensíveis e o ritmo faz com que os versos tenham musicalidade, ajudando o poeta a envolver o ouvinte e a sensibilizá-lo para sua mensagem religiosa.

EXERCÍCIOS

01-A literatura informativa, que esteve presente nos primeiros tempos da colonização brasileira, pode ser definida como:
a)    obras catequéticas dirigidas aos índios.
b)    busca de emancipação da influência portuguesa.
c)    descrição dos costumes dos povos da terra.
d)    confirmação do paganismo dos primeiros colonizadores.
e)    descrição do muito ouro e da muita prata existentes no Brasil

02-Caracterizam a literatura dos viajantes as afirmativas abaixo, exceto:
a)    Os escritos dos viajantes refletem a visão, os conceitos e os interesses dos europeus em relação às terras do além-mar.
b)    Observa-se a necessidade de informar a Coroa Portuguesa sobre as potencialidades econômicas da Nov aterra .
c)    O conjunto do registro dos viajantes tem, sobretudo, valor documental e histórico.
d)    As crônicas dos viajantes surgiram como o desdobramento de um processo de mudanças estruturais na Europa.
e)    Havia, por parte dos cronistas, uma preocupação estética, um apuro literário formal.

03- Nos séculos XVI e XVII, ocorreram no Brasil as chamadas “manifestações literárias”, representadas sobretudo por cartas, tratados descritivos, relatórios e textos categóricos. O conjunto dessas manifestações permite afirmar que, nessa época,
a)    já está constituído um sistema literário de alta expressão.
b)    os estilos barroco e o arcádico disputam a preferência do público leitor.
c)    a produção escrita é reveladora de nossa condição colonial.
d)    as teses do indianismo ganham força entre os escritores.
e)    os sentimentos nacionalistas representam-se em todos os gêneros literários.

04-Entende-se por literatura informativa no Brasil:
a)    a história dos jesuítas que aqui estiveram no século XVI.
b)    as obras escritas com a finalidade de catequese do indígena.
c)     os poemas do Padre José de Anchieta.
d)    os sonetos de Gregório de Matos.
e)    conjunto de relato de viajantes e missionários europeus, sobre a natureza e o homem brasileiros.

05-Todas as alternativas são corretas sobre o Padre José de Anchieta, EXCETO:
a)     Foi o mais importante jesuíta em atividade no Brasil do século XVI.
b)    Foi o grande orador sacro da língua portuguesa, com seus sermões barrocos.
c)     Estudou o tupi-guarani, escrevendo uma cartilha sobre a gramática da língua dos nativos.
d)    Escreveu tanto uma literatura de caráter informativo como de caráter pedagógico.
e)    Suas peças apresentam sempre o duelo entre anjos e diabos.
06- A carta escrita pelo Padre Manuel da Nóbrega, notificando a chegada da primeira missão jesuítica, por ele chefiada, em 1549, inaugura que tipo de literatura no Brasil?
a)    Hábitos da cultura européia.
b)    A das relações estabelecidas entre os românticos.
c)    Informativa dos jesuítas no Brasil.
d)    A das influências que Luís de Camões exerce sobre os escritores de Língua Portuguesa.
Gabarito:
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