O que é Literatura?
A
literatura, como toda arte, é uma transfiguração do real, é a realidade
recriada através da língua para as formas, que são os gêneros, e com os quais
ela toma corpo e nova realidade. (COUTINHO, Afrânio. Notas de teoria literária. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1978)
Funções da Literatura:
Antonio
Candido, em A literatura e a formação do
homem (1972) identifica três funções da literatura, que denomina de função
humanizadora da literatura:
1ª função: psicológica,
em virtude da sua ligação estrita com a capacidade e necessidade que o homem
tem de fantasiar. São exemplos dessa necessidade: novelas, músicas, fantasiar
sobre o amor, sobre o futuro, etc.
2ª função: instrumento
de educação, de formação do homem, uma vez que exprime realidades que a ideologia
dominante tenta esconder.
3ª função: social,
diz respeito à identificação do leitor e de seu universo vivencial
representados na obra literária.
Gêneros Literários:
A literatura começou no Brasil através
da colonização europeia pelos portugueses. Até então a literatura portuguesa,
formada e influenciada pela literatura greco-romana, segui a tradição de
divisão padronizada dos gêneros literários, a qual se fundamentou nos dias de
hoje por meio do filósofo Aristóteles.
Esta separação facilita a identificação
das características temáticas e estruturais das obras, sejam elas em prosa ou
em verso.
Logo, quanto ao conteúdo (tema) e à
estrutura, podemos enquadrar as obras literárias nos seguintes gêneros: épico, dramático, lírico.
ÉPICO:
é a narrativa com temática histórica; são feitos heroicos de um determinado
povo. O narrador conta os fatos passados, apenas observando e relatando os
feitos.
Na
estrutura épica temos:
ü O
narrador, o qual conta a história praticada por outros no passado;
ü A
história, a sucessão de acontecimentos;
ü As
personagens, em torno das quais geram os fatos;
ü O
tempo, o qual geralmente se apresenta no passado;
ü O
espaço, local onde se dá a ação das personagens.
Geralmente,
há a presença de figuras fantasiosas que ajudam ou atrapalham o curso dos
acontecimentos. Quando as ações são narradas em versos, temos o poema épico ou
epopeia. Dentre as principais epopeias, temos: Ilíada e Odisseia de Homero e Os
Lusíadas de Camões.
DRAMÁTICO:
é o gênero ligado diretamente à representação de um acontecimento por atores.
Neste gênero, o narrador conta a história enquanto os atores encenam e dialogam
através das personagens. Quanto aos estilos, esta modalidade compreende:
Ø Tragédia:
representação de um fato trágico que causa catarse a quem assiste, ou seja,
provoca alívio emocional da audiência;
Ø Comédia:
representação de um fato cômico, que causa riso.
Ø Tragicomédia:
é a mistura de elementos trágicos e cômicos.
Ø Farsa:
peça teatral de caráter puramente caricatural, de crítica à sociedade, porém,
sem se preocupar com questionamentos de valores.
LÍRICO:
gênero essencialmente poético, que expõe a subjetividade do autor e diz ao
leitor do estado emocional do “eu-lírico”.
Esse gênero é geralmente expresso
pela poesia, contudo, não é toda poesia que pertence a este gênero. Quanto ao
conteúdo destacam-se:
v Elegia: vem
do grego e significa “canto triste”, poesia lírica que expressa sentimentos
tristes ou morte. Exemplo: O cântico do calvário de Fagundes Varela.
v Idílio e écloga:
são poemas breves com temática pastoril. A écloga, na maioria das vezes,
apresenta diálogo.
v Epitálamo: na
literatura grega é um poema de homenagem aos noivos no momento do casamento.
Logo, é uma exaltação às núpcias de alguém.
v Ode ou hino:
derivam do grego e significam “canto”. Ode é uma poesia que exalta algo e hino
que glorifica a pátria.
Noções
de versificação:
Verso: cada linha do poema. Pode ou não ter sentido
completo.
Estrofe: conjunto de versos separados por um espaço. Classificação
das estrofes quanto ao número de versos:
Monóstico:
estrofe com um verso
Parelha ou
dístico: estrofe com dois versos
Terceto: estrofe
com três versos
Quadra: estrofe
com quatro versos
Quintilha: estrofe
com cinco versos
Sextilha: estrofe
com seis versos
Sétima: estrofe
com sete versos
Oitava: estrofe
com oito versos
Nona: estrofe
com nove versos
Décima:
estrofe com dez versos
Rima: é a terminação semelhante de cada verso, em termos
de som. Há vários tipos de rima:
- Rima emparelhada: os versos rimam dois a dois (aabb);
- Rima emparelhada: os versos rimam dois a dois (aabb);
- Rima cruzada: os versos rimam alternadamente (abab)
- Rima interpolada: os versos rimam separados por
dois ou mais versos diferentes (abba).
A rima pode ainda ser:
A rima pode ainda ser:
Rica: quando as palavras que rimam pertencem a
classes gramaticais diferentes.
Pobre: quando rimam palavras da mesma classe gramatical.
Pobre: quando rimam palavras da mesma classe gramatical.
Métrica:
os versos podem ser medidos quanto ao número de
sílabas métricas, que não são sempre iguais às sílabas gramaticais. “Medir” um
verso é fazer a sua escansão. Algumas regras para fazer a escansão:
a) a contagem das sílabas métricas é feita até à
última sílaba tônica do verso;
b) quando uma palavra termina com vogal e a palavra
seguinte começa também por vogal, faz-se uma elisão, ou seja, as vogais
fundem-se numa única sílaba.
Classificação
dos versos quanto ao número de sílabas métricas:
Monossílabo: verso com uma sílaba métrica
Dissílabo: verso com duas sílabas métricas
Trissílabo: verso com três sílabas métricas
Tetrassílabo: verso com quatro sílabas métricas
Pentassílabo ou redondilha menor: verso com cinco
sílabas métricas
Hexassílabo: verso com seis sílabas métricas
Heptassílabo ou redondilha maior: verso com sete
sílabas métricas
Octossílabo: verso com oito sílabas métricas
Eneassílabo: verso com nove sílabas métricas
Decassílabo: verso com dez sílabas métricas
Hendecassílabo: verso com onze sílabas métricas
Dodecassílabo ou verso alexandrino: verso com doze
sílabas métricas
AS FIGURAS DE LINGUAGEM
As
figuras de linguagem são divididas em três tipos: as de sintaxe, as de pensamento,
e as de palavras.
Figuras de Sintaxe
·
Elipse:
trata-se da omissão de um termo que pode ser facilmente identificado pelo
contexto ou por elementos gramaticais presentes na frase.
“Jantei
sozinho. E quando voltei a casa, fui direito ao atelier, destapei o retrato,
lancei uma pincelada ao acaso, tornei a cobrir a tela.” (José Saramago)
A
omissão do pronome eu (imagine essa passagem com a repetição do pronome
antecedendo as formas verbais!) torna o texto conciso e elegante e pode ser
facilmente identificada pelos elementos gramaticais presentes na frase: a
flexão de pessoa das formas verbais.
·
Zeugma:
consiste na omissão de um tempo já expresso anteriormente.
“Que
quero eu? Primeiramente, na ser derrotado. Depois, se possível, vencer.” (José
Saramago)
Temos,
no exemplo, a omissão do verbo, já citado: Primeiramente, não [quero] ser derrotado. Depois, se
possível, [quero] vencer.
·
Polissíndeto:
(do grego: poli – muitos; síndeto – conjunção) consiste na
repetição de conjunções coordenativas na ligação de elementos da frase ou do
período.
“E sob ondas ritmadas
e sob nuvens e os
ventos
e sob as pontes e
sob o sarcasmo
e sob
a gosma e sob o vômito
e sob soluço, o cárcere,o esquecido
e sob
os espetáculos e sob a morte...” (Carlos
Drummond de Andrade)
·
Assíndeto:
(do grego: a – ausência, falta; síndeto – conjunção) é a ausência de
conjunções coordenativas na ligação dos elementos da frase ou período.
“Clara
passeava no jardim com as crianças.
O
céu era verde sobre o gramado,
a
água era dourada sob as pontes,
outros
elementos eram azuis, róseos, alaranjados,
o
guarda-civil sorria, passavam bicicletas,
a
menina pisou a relva para pegar um pássaro,
o
mundo inteiro, a Alemanha, a China tudo era tranqüilo em redor de Clara.” (Carlos
Drummond de Andrade)
·
Inversão:
como o próprio nome indica, consiste na mudança da ordem normal dos termos da
frase. Os dois primeiros versos do Hino Nacional são um bom exemplo de
inversão.
“Ouviram
do Ipiranga as margens plácidas
De
um povo heróico o brado retumbante”
A
ordem normal dos termos seria:
As
margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado
retumbante
de um povo heróico.
·
Anacoluto:
consiste na quebra da seqüência lógica da frase. Inicia-se uma frase que depois
é quebrada para a introdução de uma palavra ou expressão que não tem relação
sintática com a frase que se iniciou anteriormente.
“O
homem, chamar-lhe mito não passa de anacoluto.” (Carlos Drummond de Andrade)
·
Pleonasmo:
consiste na repetição de termos ou ideias com finalidade expressiva, isto é, de
enfatizar, de reforçar a mensagem.
“E
rir meu riso e chorar meu pranto”
(Vinícius de Moraes)
Quando
a repetição de termos nada acrescenta à eficácia e à originalidade da mensagem,
temos o pleonasmo vicioso,
considerado um defeito de linguagem.
Fulano
teve uma hemorragia de sangue.
A
brisa matinal da manhã lhe fez muito
bem.
·
Aliteração:
consiste na repetição dos mesmos sons de natureza consonantal.
“Vozes
veladas, veludosas vozes,
volúpias
de violões, vozes veladas,
vagam
nos velhos vórtices velozes
dos
ventos, vivas, vãs vulcanizadas.” (Cruz e Sousa)
Se
os sons repetidos forem de natureza vocálica (notadamente da vogal tônica), a
figura recebe o nome de assonância.
“Sou
um mulato nato no sentido lato
mulato democrático do litoral.” (Caetano
Veloso)
·
Silepse:
consiste numa concordância não com o termo que vem expresso na frase, mas com a
ideia que ele representa. Por isso mesmo, também é conhecida como concordância ideológica.
·
Anáfora:
consiste na repetição de uma mesma palavra no início de versos ou frases.
“Olha a voz que me resta
Olha a
veia que salta
Olha a
gota que falta
Pro
desfecho da festa
Por
favor”. (Chico Buarque)
Figuras de pensamento
·
Antítese:
consiste na aproximação de palavras que se opõem pelo sentido.
“Os
jardins têm vida e morte.” (Cecília
Meireles)
·
Ironia:
consiste em utilizar uma palavra, expressão ou frase em sentido diverso do
literal, obtendo-se, com isso, conotação depreciativa ou satírica.
“A
excelente Dona Inácia era mestra na arte
de judiar crianças”. (Monteiro Lobato)
·
Eufemismo:
consiste em suavizar uma expressão desagradável, substituindo-a por outra menos
brusca.
“Querida,
ao pé do leito derradeiro
Em
que descansas dessa longa vida,
Aqui
venho e virei, pobre querida,
Trazer-te
o coração do companheiro.” (Machado de Assis)
·
Hipérbole:
consiste na exageração de uma idéia com finalidade expressiva.
“O
leito dos rios fartou-se
E
inundou de água doce
A
amargura do mar.” (Chico Buarque)
·
Prosopopéia
ou personificação: consiste em atribuir a seres inanimados
predicados próprios dos seres inanimados.
“A
lua,
tal
qual a dona de um bordel,
pedia a
cada estrela fria
um
brilho de aluguel.
E
nuvens,
Lá
no mata-borrão do céu
Chupavam
manchas torturadas
-
que sufoco!” (João Bosco e Aldir Bilac)
·
Gradação:
consiste na apresentação de ideias em progressão ascendente (clímax) ou
descendente (anticlímax)
“Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo teto e portas.” (Marina
Colassanti)
Figuras de palavras
·
Metáfora:
consiste em utilizar uma palavra, ou expressão, em lugar de outra, por haver
entre elas uma relação de semelhança, de similaridade. Toda metáfora é uma
espécie de comparação implícita, em que o elemento comparativo não aparece.
Observe o exemplo:
“Meu
pensamento é um rio subterrâneo”. (Fernando Pessoa)
No
caso, a metáfora é possível na medida em que o poeta estabelece traços de
semelhança entre um rio subterrâneo e seu pensamento (por exemplo, a fluidez, a
profundidade, etc).
·
Catacrese:
trata-se de um tipo de metáfora que já se cristalizou, perdendo, até mesmo, relação
com o significado original (por exemplo, braço
da cadeira, pé de café).
“Vozes
cantigas e risos
Ao
pé das fogueiras acessas.” (Manuel
Bandeira)
·
Sinestesia:
trata-se de mesclar, numa expressão, sensações percebidas por diferentes órgãos
do sentido.
“Vozes
veladas, veludosas vozes” (Cruz e
Sousa)
·
Metonímia/sinédoque:
consiste
em empregar um termo no lugar de outro, com o qual mantém uma relação de
contiguidade (autor pela obra, todo pela parte, etc). Seguindo uma tendência
moderna, não estabeleceremos distinção entre metonímia e sinédoque, já que
ambas se sustentam na mesma relação de pertinência, de vizinhança.
“O
bonde passa cheio de pernas:
pernas
brancas pretas amarelas.” (Carlos Drummond de Andrade)
EXERCÍCIOS
1) Reconheça e classifique as
figuras de palavras, de construção e de pensamento:
( ) “Quando uma lousa cai sobre um cadáver
mudo”.
( ) “Terrível hemorragia de sangue”.
( ) “Das idades através”.
( ) “Oxalá tenham razão”.
( ) “Trejeita, e canta, e ri nervosamente”.
(1)
Polissíndeto (2) Hipérbato (3) Epíteto (4) Pleonasmo (5) Elipse
A sequência que corresponde à
resposta correta é:
A)
4,3,5,2,1 B) 3,4,2,1,5 C)
3,4,2,5,1 D) 3,4,5,2,1 E) 1,3,2,5,4
02) A figura de linguagem empregada
nos versos em destaque é:
“Quando
a Indesejada das gentes chegar
(Não
sei se dura ou caroável)
Talvez
eu tenha medo.
Talvez
sorria, ou diga:
-
Alô, iniludível!”
A)
clímax B) eufemismo C)
sínquise D) catacrese E)
pleonasmo
03) Nos versos: “Bomba atômica que
aterra
Pomba atônita da paz
Pomba tonta, bomba atômica…”
A repetição de determinados
elemento fônicos é um recurso estilístico denominado:
A)
hiperbibasmo B) sinédoque C)
metonímia D) aliteração E) metáfora
04- Leia o trecho do poema abaixo.
O Poeta da Roça
Patativa do Assaré
Sou fio das mata, cantô da mão
grosa
Trabaio na roça, de inverno e de
estio
A minha chupana é tapada de barro
Só fumo cigarro de paia de mio.
A
respeito dele, é possível afirmar que
(A)
não pode ser considerado literário, visto que a linguagem aí utilizada não está
adequada à norma culta formal.
(B)
não pode ser considerado literário, pois nele não se percebe a preservação do
patrimônio cultural brasileiro.
(C)
não é um texto consagrado pela crítica literária.
(D)
trata-se de um texto literário, porque, no processo criativo da Literatura, o
trabalho com a linguagem pode aparecer de várias formas: cômica, lúdica,
erótica, popular etc
(E)
a pobreza vocabular – palavras erradas – não permite que o consideremos um texto
literário.
05. (UFRGS) O soneto é uma das
formas poéticas mais tradicionais e difundidas nas literaturas ocidentais e
expressa, quase sempre, conteúdo:
(A)
dramático. (B) satírico. (C) lírico. (D) épico. (E) cronístico.
06- (UFRGS) Considere as seguintes
afirmações:
I
- O romance é um gênero literário em constante evolução que, na sua
configuração atual, utiliza-se das técnicas mais variadas, provenientes,
inclusive, de outras artes como o cinema e a pintura.
II
- O conto é uma narrativa em prosa, de curta extensão, cuja trama é em geral
construída com tempo, espaço e número de personagens reduzidos.
III
- A crônica moderna apresenta-se como um registro isento e distanciado de
acontecimentos cotidianos presenciados pelo cronista.
Quais
estão corretas?
(A) Apenas
I. (B) Apenas II. (C) Apenas I e II. (D) Apenas II e III. (E) I, II e III.
07 – Leia o poema abaixo e marque
as figuras de linguagem presentes:
Há
muito, muito tempo, existia
num reino junto ao mar, uma donzela que eu sabia Annabel Lee se chamar; Donzela em que outro pensar não se via do que ser amada e muito amar. Eu era criança e criança ela também, num reino junto ao mar, nos amamos com amor imenso, Annabel Lee e eu, de tanto amar com um amor que os alados Serafins lá no Céu ousaram invejar. E esta foi a razão de, tempo atrás, num reino junto ao mar, de uma nuvem soprar um vento e a bela Annabel Lee congelar. Então seus nobres parentes vieram para de mim a afastar, para fecharem-na num sepulcro no reino junto ao mar. Os anjos, pouco felizes no Céu, começaram a invejar: - Sim! - eis aí a razão (todos sabem, no reino junto ao mar) de um vento soprar na noite nublada, e minha Annabel Lee congelar. Mas nosso amor era mais forte que o amor daqueles mais antigos daqueles mais sábios - e nem os anjos lá nos Céus nem os demônios no mar, Não podem mesmo minha alma da bela Annabel Lee afastar. Pois a lua nunca brilha, sem trazer-me sonhos da bela Annabel Lee; E estrela alguma surge, mas posso sentir o olhar da bela Annabel Lee; E assim, noite adentro, deito-me ao lado de minha querida - minha vida e minha noiva, no sepulcro junto ao mar - em seu túmulo junto ao borbulhante mar.
Fonte: http://leoleituraescrita.blogspot.com.br/2009/05/annabel-lee-edgar-allan-poe.html
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