domingo, 23 de agosto de 2015

INTRODUÇÃO À LITERATURA - Professora Ana



O que é Literatura?
A literatura, como toda arte, é uma transfiguração do real, é a realidade recriada através da língua para as formas, que são os gêneros, e com os quais ela toma corpo e nova realidade. (COUTINHO, Afrânio. Notas de teoria literária. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978)
Funções da Literatura:
Antonio Candido, em A literatura e a formação do homem (1972) identifica três funções da literatura, que denomina de função humanizadora da literatura:
1ª função: psicológica, em virtude da sua ligação estrita com a capacidade e necessidade que o homem tem de fantasiar. São exemplos dessa necessidade: novelas, músicas, fantasiar sobre o amor, sobre o futuro, etc.
2ª função: instrumento de educação, de formação do homem, uma vez que exprime realidades que a ideologia dominante tenta esconder.
3ª função: social, diz respeito à identificação do leitor e de seu universo vivencial representados na obra literária.
Gêneros Literários:
*      A literatura começou no Brasil através da colonização europeia pelos portugueses. Até então a literatura portuguesa, formada e influenciada pela literatura greco-romana, segui a tradição de divisão padronizada dos gêneros literários, a qual se fundamentou nos dias de hoje por meio do filósofo Aristóteles.
*      Esta separação facilita a identificação das características temáticas e estruturais das obras, sejam elas em prosa ou em verso.
*      Logo, quanto ao conteúdo (tema) e à estrutura, podemos enquadrar as obras literárias nos seguintes gêneros: épico, dramático, lírico.
ÉPICO: é a narrativa com temática histórica; são feitos heroicos de um determinado povo. O narrador conta os fatos passados, apenas observando e relatando os feitos.
Na estrutura épica temos:
ü  O narrador, o qual conta a história praticada por outros no passado;
ü  A história, a sucessão de acontecimentos;
ü  As personagens, em torno das quais geram os fatos;
ü  O tempo, o qual geralmente se apresenta no passado;
ü  O espaço, local onde se dá a ação das personagens.
Geralmente, há a presença de figuras fantasiosas que ajudam ou atrapalham o curso dos acontecimentos. Quando as ações são narradas em versos, temos o poema épico ou epopeia. Dentre as principais epopeias, temos: Ilíada e Odisseia de Homero e Os Lusíadas de Camões.
DRAMÁTICO: é o gênero ligado diretamente à representação de um acontecimento por atores. Neste gênero, o narrador conta a história enquanto os atores encenam e dialogam através das personagens. Quanto aos estilos, esta modalidade compreende:
Ø  Tragédia: representação de um fato trágico que causa catarse a quem assiste, ou seja, provoca alívio emocional da audiência;
Ø  Comédia: representação de um fato cômico, que causa riso.
Ø  Tragicomédia: é a mistura de elementos trágicos e cômicos.
Ø  Farsa: peça teatral de caráter puramente caricatural, de crítica à sociedade, porém, sem se preocupar com questionamentos de valores.
LÍRICO: gênero essencialmente poético, que expõe a subjetividade do autor e diz ao leitor do estado emocional do “eu-lírico”.
            Esse gênero é geralmente expresso pela poesia, contudo, não é toda poesia que pertence a este gênero. Quanto ao conteúdo destacam-se:
v Elegia: vem do grego e significa “canto triste”, poesia lírica que expressa sentimentos tristes ou morte. Exemplo: O cântico do calvário de Fagundes Varela.
v Idílio e écloga: são poemas breves com temática pastoril. A écloga, na maioria das vezes, apresenta diálogo.
v Epitálamo: na literatura grega é um poema de homenagem aos noivos no momento do casamento. Logo, é uma exaltação às núpcias de alguém.
v Ode ou hino: derivam do grego e significam “canto”. Ode é uma poesia que exalta algo e hino que glorifica a pátria.
Noções de versificação:
Verso: cada linha do poema. Pode ou não ter sentido completo.
Estrofe: conjunto de versos separados por um espaço. Classificação das estrofes quanto ao número de versos:
*      Monóstico: estrofe com um verso
*      Parelha ou dístico: estrofe com dois versos
*      Terceto: estrofe com três versos
*      Quadra: estrofe com quatro versos
*      Quintilha: estrofe com cinco versos
*      Sextilha: estrofe com seis versos
*      Sétima: estrofe com sete versos
*      Oitava: estrofe com oito versos
*      Nona: estrofe com nove versos
*      Décima: estrofe com dez versos
Rima: é a terminação semelhante de cada verso, em termos de som. Há vários tipos de rima:
- Rima emparelhada: os versos rimam dois a dois (aabb);
- Rima cruzada: os versos rimam alternadamente (abab)
- Rima interpolada: os versos rimam separados por dois ou  mais versos diferentes (abba).
A rima pode ainda ser:
Rica: quando as palavras que rimam pertencem a classes gramaticais diferentes.
Pobre: quando rimam palavras da mesma classe gramatical.
Métrica: os versos podem ser medidos quanto ao número de sílabas métricas, que não são sempre iguais às sílabas gramaticais. “Medir” um verso é fazer a sua escansão. Algumas regras para fazer a escansão:
a) a contagem das sílabas métricas é feita até à última sílaba tônica do verso;
b) quando uma palavra termina com vogal e a palavra seguinte começa também por vogal, faz-se uma elisão, ou seja, as vogais fundem-se numa única sílaba.
Classificação dos versos quanto ao número de sílabas métricas:
Monossílabo: verso com uma sílaba métrica
Dissílabo: verso com duas sílabas métricas
Trissílabo: verso com três sílabas métricas
Tetrassílabo: verso com quatro sílabas métricas
Pentassílabo ou redondilha menor: verso com cinco sílabas métricas
Hexassílabo: verso com seis sílabas métricas
Heptassílabo ou redondilha maior: verso com sete sílabas métricas
Octossílabo: verso com oito sílabas métricas
Eneassílabo: verso com nove sílabas métricas
Decassílabo: verso com dez sílabas métricas
Hendecassílabo: verso com onze sílabas métricas
Dodecassílabo ou verso alexandrino: verso com doze sílabas métricas
AS FIGURAS DE LINGUAGEM
As figuras de linguagem são divididas em três tipos: as de sintaxe, as de pensamento, e as de palavras.
Figuras de Sintaxe
·         Elipse: trata-se da omissão de um termo que pode ser facilmente identificado pelo contexto ou por elementos gramaticais presentes na frase.
“Jantei sozinho. E quando voltei a casa, fui direito ao atelier, destapei o retrato, lancei uma pincelada ao acaso, tornei a cobrir a tela.” (José Saramago)
A omissão do pronome eu (imagine essa passagem com a repetição do pronome antecedendo as formas verbais!) torna o texto conciso e elegante e pode ser facilmente identificada pelos elementos gramaticais presentes na frase: a flexão de pessoa das formas verbais.
·         Zeugma: consiste na omissão de um tempo já expresso anteriormente.
“Que quero eu? Primeiramente, na ser derrotado. Depois, se possível, vencer.” (José Saramago)
Temos, no exemplo, a omissão do verbo, já citado: Primeiramente, não [quero] ser derrotado. Depois, se possível, [quero] vencer.
·         Polissíndeto: (do grego: poli – muitos; síndeto – conjunção) consiste na repetição de conjunções coordenativas na ligação de elementos da frase ou do período.
E sob ondas ritmadas
e sob nuvens e os ventos
e sob as pontes e sob o sarcasmo
e sob a gosma e sob o vômito
e sob  soluço, o cárcere,o esquecido
e sob os espetáculos e sob a morte...” (Carlos Drummond de Andrade)
·         Assíndeto: (do grego: a – ausência, falta; síndeto – conjunção) é a ausência de conjunções coordenativas na ligação dos elementos da frase ou período.
“Clara passeava no jardim com as crianças.
O céu era verde sobre o gramado,
a água era dourada sob as pontes,
outros elementos eram azuis, róseos, alaranjados,
o guarda-civil sorria, passavam bicicletas,
a menina pisou a relva para pegar um pássaro,
o mundo inteiro, a Alemanha, a China tudo era tranqüilo em redor de Clara.” (Carlos Drummond de Andrade)
·         Inversão: como o próprio nome indica, consiste na mudança da ordem normal dos termos da frase. Os dois primeiros versos do Hino Nacional são um bom exemplo de inversão.
“Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heróico o brado retumbante”
A ordem normal dos termos seria:
As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado
retumbante de um povo heróico.
·         Anacoluto: consiste na quebra da seqüência lógica da frase. Inicia-se uma frase que depois é quebrada para a introdução de uma palavra ou expressão que não tem relação sintática com a frase que se iniciou anteriormente.
“O homem, chamar-lhe mito não passa de anacoluto.” (Carlos Drummond de Andrade)
·         Pleonasmo: consiste na repetição de termos ou ideias com finalidade expressiva, isto é, de enfatizar, de reforçar a mensagem.
“E rir meu riso e chorar meu pranto” (Vinícius de Moraes)
Quando a repetição de termos nada acrescenta à eficácia e à originalidade da mensagem, temos o pleonasmo vicioso, considerado um defeito de linguagem.
Fulano teve uma hemorragia de sangue.
A brisa matinal da manhã lhe fez muito bem.
·         Aliteração: consiste na repetição dos mesmos sons de natureza consonantal.
“Vozes veladas, veludosas vozes,
volúpias de violões, vozes veladas,
vagam nos velhos vórtices velozes
dos ventos, vivas, vãs vulcanizadas.” (Cruz e Sousa)
Se os sons repetidos forem de natureza vocálica (notadamente da vogal tônica), a figura recebe o nome de assonância.
“Sou um mulato nato no sentido lato
mulato democrático do litoral.” (Caetano Veloso)
·         Silepse: consiste numa concordância não com o termo que vem expresso na frase, mas com a ideia que ele representa. Por isso mesmo, também é conhecida como concordância ideológica.
·         Anáfora: consiste na repetição de uma mesma palavra no início de versos ou frases.
Olha a voz que me resta
Olha a veia que salta
Olha a gota que falta
Pro desfecho da festa
Por favor”. (Chico Buarque)
Figuras de pensamento
·         Antítese: consiste na aproximação de palavras que se opõem pelo sentido.
“Os jardins têm vida e morte.” (Cecília Meireles)
·         Ironia: consiste em utilizar uma palavra, expressão ou frase em sentido diverso do literal, obtendo-se, com isso, conotação depreciativa ou satírica.
“A excelente Dona Inácia era mestra na arte de judiar crianças”. (Monteiro Lobato)
·         Eufemismo: consiste em suavizar uma expressão desagradável, substituindo-a por outra menos brusca.
“Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.” (Machado de Assis)
·         Hipérbole: consiste na exageração de uma idéia com finalidade expressiva.
“O leito dos rios fartou-se
E inundou de água doce
A amargura do mar.” (Chico Buarque)
·         Prosopopéia ou personificação: consiste em atribuir a seres inanimados predicados próprios dos seres inanimados.
“A lua,
tal qual a dona de um bordel,
pedia a cada estrela fria
um brilho de aluguel.
E nuvens,
Lá no mata-borrão do céu
Chupavam manchas torturadas
- que sufoco!” (João Bosco e Aldir Bilac)
·         Gradação: consiste na apresentação de ideias em progressão ascendente (clímax) ou descendente (anticlímax)
Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo teto e portas.” (Marina Colassanti)
Figuras de palavras
·         Metáfora: consiste em utilizar uma palavra, ou expressão, em lugar de outra, por haver entre elas uma relação de semelhança, de similaridade. Toda metáfora é uma espécie de comparação implícita, em que o elemento comparativo não aparece. Observe o exemplo:
“Meu pensamento é um rio subterrâneo”. (Fernando Pessoa)
No caso, a metáfora é possível na medida em que o poeta estabelece traços de semelhança entre um rio subterrâneo e seu pensamento (por exemplo, a fluidez, a profundidade, etc).
·         Catacrese: trata-se de um tipo de metáfora que já se cristalizou, perdendo, até mesmo, relação com o significado original (por exemplo, braço da cadeira, de café).
“Vozes cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acessas.” (Manuel Bandeira)
·         Sinestesia: trata-se de mesclar, numa expressão, sensações percebidas por diferentes órgãos do sentido.
“Vozes veladas, veludosas vozes” (Cruz e Sousa)
·         Metonímia/sinédoque: consiste em empregar um termo no lugar de outro, com o qual mantém uma relação de contiguidade (autor pela obra, todo pela parte, etc). Seguindo uma tendência moderna, não estabeleceremos distinção entre metonímia e sinédoque, já que ambas se sustentam na mesma relação de pertinência, de vizinhança.
“O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.” (Carlos Drummond de Andrade)
EXERCÍCIOS       
1) Reconheça e classifique as figuras de palavras, de construção e de pensamento:
(  ) “Quando uma lousa cai sobre um cadáver mudo”.
(  ) “Terrível hemorragia de sangue”.
(  ) “Das idades através”.
(  ) “Oxalá tenham razão”.
(  ) “Trejeita, e canta, e ri nervosamente”.
(1) Polissíndeto (2) Hipérbato (3) Epíteto (4) Pleonasmo (5) Elipse
A sequência que corresponde à resposta correta é:
A) 4,3,5,2,1     B) 3,4,2,1,5     C) 3,4,2,5,1    D) 3,4,5,2,1    E) 1,3,2,5,4
02) A figura de linguagem empregada nos versos em destaque é:
“Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável)
Talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
- Alô, iniludível!”
A) clímax      B) eufemismo   C) sínquise     D) catacrese     E) pleonasmo
03) Nos versos: “Bomba atômica que aterra
Pomba atônita da paz
Pomba tonta, bomba atômica…”
A repetição de determinados elemento fônicos é um recurso estilístico denominado:
A) hiperbibasmo    B) sinédoque   C) metonímia  D) aliteração  E) metáfora
04- Leia o trecho do poema abaixo.
O Poeta da Roça
Patativa do Assaré
Sou fio das mata, cantô da mão grosa
Trabaio na roça, de inverno e de estio
A minha chupana é tapada de barro
Só fumo cigarro de paia de mio.
A respeito dele, é possível afirmar que
(A) não pode ser considerado literário, visto que a linguagem aí utilizada não está adequada à norma culta formal.
(B) não pode ser considerado literário, pois nele não se percebe a preservação do patrimônio cultural brasileiro.
(C) não é um texto consagrado pela crítica literária.
(D) trata-se de um texto literário, porque, no processo criativo da Literatura, o trabalho com a linguagem pode aparecer de várias formas: cômica, lúdica, erótica, popular etc
(E) a pobreza vocabular – palavras erradas – não permite que o consideremos um texto literário.
05. (UFRGS) O soneto é uma das formas poéticas mais tradicionais e difundidas nas literaturas ocidentais e expressa, quase sempre, conteúdo:
(A) dramático. (B) satírico. (C) lírico. (D) épico. (E) cronístico.
06- (UFRGS) Considere as seguintes afirmações:
I - O romance é um gênero literário em constante evolução que, na sua configuração atual, utiliza-se das técnicas mais variadas, provenientes, inclusive, de outras artes como o cinema e a pintura.
II - O conto é uma narrativa em prosa, de curta extensão, cuja trama é em geral construída com tempo, espaço e número de personagens reduzidos.
III - A crônica moderna apresenta-se como um registro isento e distanciado de acontecimentos cotidianos presenciados pelo cronista.
Quais estão corretas?
(A)  Apenas I. (B) Apenas II. (C) Apenas I e II. (D) Apenas II e III. (E) I, II e III.
07 – Leia o poema abaixo e marque as figuras de linguagem presentes:

Há muito, muito tempo, existia
num reino junto ao
mar,
uma donzela que eu sabia
Annabel Lee se chamar;
Donzela em que outro pensar não se via
do que ser amada e muito amar.

Eu era criança e criança ela também,
num reino junto ao mar,
nos amamos com amor imenso,
Annabel Lee e eu, de tanto amar
com um amor que os
alados Serafins
lá no Céu ousaram invejar.

E esta foi a razão de, tempo atrás,
num reino junto ao mar,
de uma nuvem soprar um vento
e a bela Annabel Lee congelar.
Então seus nobres parentes vieram
para de mim a afastar,
para fecharem-na num sepulcro
no reino junto ao mar.

Os anjos, pouco felizes no Céu,
começaram a invejar: -
Sim! - eis aí a razão (todos sabem,
no reino junto ao mar)
de um vento soprar na noite nublada,
e minha Annabel Lee congelar.

Mas nosso amor era mais forte que o amor
daqueles mais antigos
daqueles mais sábios -
e nem os anjos lá nos Céus
nem os
demônios no mar,
Não podem mesmo minha alma
da bela Annabel Lee afastar.

Pois a
lua nunca brilha, sem trazer-me sonhos
da bela Annabel Lee;
E
estrela alguma surge, mas posso sentir o olhar
da bela Annabel Lee;
E assim, noite adentro, deito-me ao lado
de minha querida - minha vida e minha noiva,
no sepulcro junto ao mar -
em seu túmulo junto ao borbulhante mar.

Fonte: http://leoleituraescrita.blogspot.com.br/2009/05/annabel-lee-edgar-allan-poe.html
Gêneros Literários Figuras de Linguagem
1-c         2-b 3-d         4-d 5-c         6-c

Nenhum comentário:

Postar um comentário