quinta-feira, 9 de abril de 2015

Trovadorismo e Humanismo - Professora Ana



TROVADORISMO
·         Considera-se marco inicial do Trovadorismo o ano de 1189 ou 1198, data dessa época o mais antigo da literatura portuguesa, a Cantiga da Ribeirinha.
·         Compreende-se que o ano-marco do término do Trovadorismo é o de 1434 (século XV) quando Fernão Lopes foi nomeado cronista-mor da Torre do Tombo.
·         O Trovadorismo ocorreu durante o feudalismo.
·         O poder do clero se igualava ao dos reis, e possuíam domínio sobre o poder, tanto da vida artística e intelectual.
·         O teocentrismo (visão de mundo segundo a qual Deus é o centro do Universo) definia o modo de viver e de ser
·         O Trovadorismo é considerado a primeira manifestação literária da língua portuguesa.
·         Surgiu no século XII, durante a Idade Média – período em que Portugal estava em processo de formação nacional.
·         Inicia-se com a Cantiga da Ribeirinha (conhecida também como Cantiga da Garvaia), escrita por Paio Soares de Taveirós, no ano de 1189.
·         Os trovadores eram artistas de origem nobre, que compunham e cantavam acompanhados de instrumentos musicais. As cantigas eram manuscritas e reunidas em livros, conhecidos como Cancioneiros.
·         O segrel e o jogral eram os trovadores e cantores ambulantes que se apresentavam as cantigas nos castelos e feiras, ao ritmo de instrumentos musicais.
·         Os trovadores que se destacam na lírica galego-portuguesa são: Paio Soares de Taveirós, Dom Duarte, Dom Dinis, João Garcia de Guilhade, Aires Nunes e Meendinho.
·         As cantigas são divididas em dois grupos: as Satíricas (Cantigas de Maldizer e Cantigas de Escárnio), e as Líricas (Cantigas de Amor e Cantigas de Amigo).
·         Cantigas de Maldizer: os trovadores faziam sátiras diretas, chegando muitas vezes a agressões verbais e palavrões. O nome da pessoa satirizada podia aparecer, ou não, explicitamente na cantiga.
Dona fea, se Deus me perdon,
Pois avedes [a] tan gran coraçon
Que vos eu loe, em esta razon
Vos quero já loar toda via;
E vedes qual será a loaçon:
Dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
Em meu trobar, pero muito trobei;
Mais ora já um bom cantar farei,
Em que vos loarei toda via;
E direi-vos como vos loarei:
Dona fea, velha e sandia!
(Joan Garcia de Guilhade)
·         Cantigas de Escárnio: as sátiras eram feitas de forma indireta, utilizando-se de duplo sentido. O nome da pessoa satirizada não aparecia.
Roi Queimado morreu con amor
en seus cantares, par Sancta Maria,
por Da dona que gran ben queria:
e, por se meter por mais trobador,
porque lhe ela non quis ben fazer,
feze-s’el en seus cantares morrer,
mais resurgiu depois ao tercer dia!
(Pero Garcia Burgalês)
·         Cantigas de Amor: escritas em 1ª pessoa, o eu lírico declara seu amor a uma dama, tendo como ambiente o palácio. O trovador valoriza as qualidades da mulher amada, que é vista como um ser inatingível, uma figura idealizada, a quem é dedicado um amor sublimado, igualmente idealizado.
·         Tema: amor não correspondido.
·         Eu lírico: masculino. 
Quer’eu em maneira de proençal
Fazer agora um cantar d’amor,
E querrei muit’i loar mia senhor
A que prez nem fremesura non fal,
nen bondade; e mais vos direi en:
tanto a fez Deus comprida de ben
que mais que todas las do mundo val.
(El-Rei D. Dinis)
·         Cantigas de Amigo: também escritas em 1ª pessoa, apresentam um diferencial – o eu lírico é feminino (apesar de escritas por homens). A palavra amigo, nestas cantigas, tem o significado de namorado. O tema principal é a lamentação da mulher pela falta do amado. O ambiente é a zona rural; a mulher é sempre uma camponesa.
Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo?
E ai Deus, se verrá cedo!
 
Ondas do mar levado,
se vistes meu amado?
E ai Deus, se verrá cedo!
  (Martim Codax)

A prosa medieval – séculos XIII e XIV
·         A mais importante manifestação em prosa foram às novelas de cavalaria.
·         Originárias da Inglaterra e da França, as novelas de cavalaria derivam de poemas medievais cantados em linguagem popular e que celebravam os feitos guerreiros.
·         No final do século XIII, foram traduzidas em Portugal três novelas, todas pertencentes ao chamado ciclo bretão ou arturiano (tinham como cenário o reino de Camelot e por heróis o rei Artur e os cavaleiros da Távola Redonda): História de Merlim, José de Arimatéia e Demanda do Santo Graal.

HUMANISMO
Contexto Histórico
·         O feudalismo entrou em decadência devido às guerras e epidemias.
·         O poder político se concentrou nas mãos dos reis, instaurando-se o Absolutismo.
·         A Monarquia já não se submetia ao poder da Igreja.
·         Surgimento das cidades e dos burgueses.
·         A invenção da imprensa por Gutenberg, em 1452.
·         Inicio das grandes navegações.
·         O Humanismo corresponde ao período que vai desde a nomeação de Fernão Lopes para o cargo de cronista-mor da Torre do Tombo, em 1434, até o retorno de Sá de Miranda da Itália, introduzindo em Portugal a nova estética clássica, no ano de 1527.
·         Na Itália, podemos destacar: Dante Alighieri, autor da Divina Comédia; Giovanni Boccaccio e Francesco Petrarca. Em Portugal: Gil Vicente, autor de A Farsa de Inês Pereira.
·         Nessa época foram cultivados a historiografia, cujo maior representante é Fernão Lopes (considerado o pai da História Portuguesa), a prosa didática, a poesia palaciana (compilada no Cancioneiro Geral) e o teatro popular de Gil Vicente. Período de transição entre o Trovadorismo e o Classicismo.
·         A produção artística do Humanismo, iniciado na Itália, reflete a passagem do teocentrismo para o antropocentrismo. As formas humanizam-se. Surgem textos mais aprimorados de autores que conhecem o latim clássico.
·         Prosa: em suas crônicas, Fernão Lopes contou a vida de seus reis, a Revolução de Avis, a expansão ultramarina. Apesar de ser chamado “O Historiador da Revolução de Avis”, para ele a história era constituída não só pelas façanhas de reis, nobres e cavaleiros, mas também pelos movimentos populares e pelas forças econômicas.
·         É o primeiro historiador português a desprezar o relato oral e, com objetividade, imparcialidade e rigor, baseou-se em várias fontes documentais. Suas crônicas também apresentam qualidades literárias: prosa dinâmica, linguagem simples, estilo rico e movimentado.
·         Poesia palaciana: é feita por nobres e para a nobreza; retrata usos e costumes da Corte. Sua produção está registrada no Cancioneiro Geral, organizado por Garcia de Resende.
·         A poesia apresenta uma separação entre a música e o texto, o que resultou num maior apuro formal: os textos passaram a apresentar ritmo e melodia próprios, obtidos a partir da métrica, da rima, das sílabas tônicas e átonas; desenvolveram-se as redondilhas, tanto a redondilha maior (verso de 7 sílabas) quanto a redondilha menor (5 sílabas).
·         Teatro: até esse momento não se tinham produzido textos especialmente elaborados para a representação teatral. Na Idade Média só houve encenações religiosas para as festas de Páscoa e Natal. Foi Gil Vicente que, em 1502, com o Monólogo do Vaqueir (ou Auto da Visitação), escrito em castelhano, fundou o teatro português. Nesse auto, declamado nos aposentos da rainha, ele saúda o nascimento do futuro rei D. João III, filho de D. Manuel e de D. Maria.
·         O teatro popular de Gil Vicente é basicamente caracterizado pela sátira ao comportamento de todas as camadas sociais: a nobreza, o clero e o povo. Apesar de sua religiosidade, Gil criticava bastante o clero.
·         Quanto à forma, à utilização de cenários e montagens, o teatro é extremamente simples: não chega a obedecer às 3 unidades do teatro clássico – ação, lugar e tempo. Seu texto apresenta estrutura poética, com predomínio da redondilha maior, havendo mesmo várias cantigas no corpo de suas peças.
Farsa de Inês Pereira
·         A obra foi escrita a partir de um desafio lançado por pessoas que duvidavam do talento de Gil Vicente. O autor concordou em escrever uma peça que comprovasse o provérbio "Mais quero um asno que me carregue do que cavalo que me derrube". Foi representada pela primeira vez a João III de Portugal no Convento de Cristo, em Tomar, em 1523. Logo após seu descontentamento da coroa portuguesa.
·         Inês, moça simples e casadoira, mas com grande ambição procura marido que seja astuto, sedutor. A mãe de Inês, preocupada com a sua filha, sua  educação, incita-a a casar com Pero Marques, pretendente arranjado por Lianor Vaz. No entanto, Inês Pereira não se apraz do filho do lavrador, por este ser ignorante e inculto.
·         Entram então em cena dois casamenteiros judeus, e Inês se casa com um escudeiro, de sua graça Brás da Mata.
·         Este casamento depressa se revela desastroso para Inês, que por tanto procurar um marido astuto acabou por casar com um que antes de sair para a guerra, dá ordens ao seu moço que fique a vigiar Inês e que a tranque em casa de cada vez que sair à rua.
·         Meses após a sua partida, Inês recebe a prazerosa notícia de que o seu marido foi morto por um pastor. Não tarda em querer casar de novo e, nesse mesmo dia, chega-lhe a noticia de que Pero Marques continua casadoiro, de resto como ele havia prometido a Inês quando do primeiro encontro de ambos.
·         Inês casa com ele logo ali e, já no fim da história, aparece um ermitão que se torna amante da protagonista.
·         O ditado "mais quero asno que me carregue que cavalo que me derrube", não podia ser melhor representado do que na última cena da obra, quando o marido a carrega em ombros até ao amante, e ainda canta com ela "assim são as coisas".

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