AS
FIGURAS DE LINGUAGEM
As figuras de linguagem são divididas em
três tipos: as de sintaxe, as de pensamento, e as de palavras.
Figuras
de Sintaxe
Elipse: trata-se da
omissão de um termo que pode ser facilmente identificado pelo contexto ou por
elementos gramaticais presentes na frase.
“Jantei sozinho. E quando voltei a casa,
fui direito ao atelier, destapei o retrato, lancei uma pincelada ao acaso,
tornei a cobrir a tela.”
(José Saramago)
A
omissão do pronome eu (imagine essa passagem com a repetição do pronome
antecedendo as formas verbais!) torna o texto conciso e elegante e pode ser
facilmente identificada pelos elementos gramaticais presentes na frase: a
flexão de pessoa das formas verbais.
Zeugma: consiste na
omissão de um tempo já expresso anteriormente.
“Que quero eu? Primeiramente, na ser
derrotado. Depois, se possível, vencer.”
(José Saramago)
Temos,
no exemplo, a omissão do verbo, já citado: Primeiramente, não [quero] ser derrotado. Depois, se
possível, [quero] vencer.
Polissíndeto: (do grego: poli – muitos; síndeto – conjunção) consiste na repetição de conjunções
coordenativas na ligação de elementos da frase ou do período.
“E
sob ondas ritmadas
e sob nuvens e os
ventos
e sob as pontes e
sob o sarcasmo
e sob a gosma e
sob o vômito
e sob soluço, o cárcere,o esquecido
e sob os
espetáculos e sob a morte...”
(Carlos Drummond
de Andrade)
Assíndeto: (do grego: a – ausência, falta; síndeto – conjunção) é a ausência de
conjunções coordenativas na ligação dos elementos da frase ou período.
“Clara passeava no jardim com as crianças.
O céu era verde sobre o gramado,
a água era dourada sob as pontes,
outros elementos eram azuis, róseos,
alaranjados,
o guarda-civil sorria, passavam bicicletas,
a menina pisou a relva para pegar um
pássaro,
o mundo inteiro, a Alemanha, a China tudo
era tranqüilo em redor de Clara.”
(Carlos Drummond
de Andrade)
Inversão: como o próprio
nome indica, consiste na mudança da ordem normal dos termos da frase. Os dois
primeiros versos do Hino Nacional são um bom exemplo de inversão.
“Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heróico o brado retumbante”
A
ordem normal dos termos seria:
As margens plácidas do Ipiranga ouviram
o brado
retumbante de um povo heróico.
Anacoluto: consiste na
quebra da seqüência lógica da frase. Inicia-se uma frase que depois é quebrada
para a introdução de uma palavra ou expressão que não tem relação sintática com
a frase que se iniciou anteriormente.
“O homem, chamar-lhe mito não passa de
anacoluto.”
(Carlos Drummond
de Andrade)
Pleonasmo: consiste na
repetição de termos ou idéias com finalidade expressiva, isto é, de enfatizar,
de reforçar a mensagem.
“E rir meu riso e chorar meu pranto”
(Vinícius de Moraes)
Quando
a repetição de termos nada acrescenta à eficácia e à originalidade da mensagem,
temos o pleonasmo vicioso,
considerado um defeito de linguagem.
Fulano teve uma hemorragia de sangue.
A brisa matinal da manhã lhe fez muito bem.
Aliteração: consiste na
repetição dos mesmos sons de natureza consonantal.
“Vozes veladas, veludosas vozes,
volúpias de violões, vozes veladas,
vagam nos velhos vórtices velozes
dos ventos, vivas, vãs vulcanizadas.”
(Cruz e Sousa)
Se
os sons repetidos forem de natureza vocálica (notadamente da vogal tônica), a
figura recebe o nome de assonância.
“Sou um mulato nato no sentido lato
mulato
democrático do litoral.”
(Caetano Veloso)
Silepse: consiste numa
concordância não com o termo que vem expresso na frase, mas com a ideia que ele
representa. Por isso mesmo, também é conhecida como concordância ideológica.
Anáfora: consiste na
repetição de uma mesma palavra no início de versos ou frases.
“Olha
a voz que me resta
Olha
a
veia que salta
Olha
a
gota que falta
Pro desfecho da festa
Por favor”.
(Chico Buarque)
Figuras
de pensamento
Antítese: consiste na
aproximação de palavras que se opõem pelo sentido.
“Os jardins têm vida e morte.” (Cecília Meireles)
Ironia: consiste em
utilizar uma palavra, expressão ou frase em sentido diverso do literal,
obtendo-se, com isso, conotação depreciativa ou satírica.
“A excelente
Dona Inácia era mestra na
arte
de judiar crianças”.
(Monteiro Lobato)
Eufemismo: consiste em
suavizar uma expressão desagradável, substituindo-a por outra menos brusca.
“Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.”
(Machado de
Assis)
Hipérbole: consiste na
exageração de uma idéia com finalidade expressiva.
“O leito dos rios fartou-se
E inundou
de água doce
A amargura do mar.”
(Chico Buarque)
Prosopopéia ou
personificação:
consiste em atribuir a seres inanimados predicados próprios dos seres
inanimados.
“A lua,
tal qual a dona de um bordel,
pedia
a
cada estrela fria
um brilho de aluguel.
E nuvens,
Lá no mata-borrão do céu
Chupavam manchas
torturadas
- que sufoco!”
(João Bosco e
Aldir Bilac)
Gradação: consiste na
apresentação de idéias em progressão ascendente (clímax) ou descendente
(anticlímax)
“Dias
e dias, semanas e meses
trabalhou a moça tecendo teto e portas.”
(Marina
Colassanti)
Figuras
de palavras
Metáfora: consiste em
utilizar uma palavra, ou expressão, em lugar de outra, por haver entre elas uma
relação de semelhança, de similaridade. Toda metáfora é uma espécie de
comparação implícita, em que o elemento comparativo não aparece. Observe o
exemplo:
“Meu pensamento é um rio
subterrâneo”.
(Fernando
Pessoa)
No
caso, a metáfora é possível na medida em que o poeta estabelece traços de
semelhança entre um rio subterrâneo e seu pensamento (por exemplo, a fluidez, a
profundidade, etc).
Catacrese: trata-se de um
tipo de metáfora que já se cristalizou, perdendo, até mesmo, relação com o
significado original (por exemplo, braço
da cadeira, pé de café).
“Vozes cantigas e risos
Ao pé
das fogueiras acessas.”
(Manuel Bandeira)
Sinestesia: trata-se de
mesclar, numa expressão, sensações percebidas por diferentes órgãos do sentido.
“Vozes veladas, veludosas vozes”
(Cruz e Sousa)
Metonímia/sinédoque:
consiste
em empregar um termo no lugar de outro, com o qual mantém uma relação de
contigüidade (autor pela obra, todo pela parte, etc). Seguindo uma tendência
moderna, não estabeleceremos distinção entre metonímia e sinédoque, já que
ambas se sustentam na mesma relação de pertinência, de vizinhança.
“O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.”
(Carlos Drummond de Andrade)
EXERCÍCIOS
1) Reconheça e
classifique as figuras de palavras, de construção e de pensamento:
( ) “Quando uma lousa cai sobre um cadáver mudo”.
( ) “Quando uma lousa cai sobre um cadáver mudo”.
( ) “Terrível hemorragia de sangue”.
( ) “Das idades através”.
( ) “Oxalá tenham razão”.
( ) “Trejeita, e canta, e ri nervosamente”.
(1) Polissíndeto (2) Hipérbato (3) Epíteto (4) Pleonasmo (5) Elipse
A sequência que corresponde à resposta correta é:
A) 4,3,5,2,1
B)
3,4,2,1,5
C)
3,4,2,5,1
D)
3,4,5,2,1
E)
1,3,2,5,4
02) A figura de
linguagem empregada nos versos em destaque é:
“Quando
a Indesejada das gentes chegar
(Não
sei se dura ou caroável)
Talvez
eu tenha medo.
Talvez
sorria, ou diga:
-
Alô, iniludível!”
A)
clímax B) eufemismo C)
sínquise D) catacrese E)
pleonasmo
03) Nos versos:
“Bomba atômica que aterra
Pomba atônita da
paz
Pomba tonta,
bomba atômica…”
A repetição de
determinados elemento fônicos é um recurso estilístico denominado:
A) hiperbibasmo B) sinédoque C) metonímia D) aliteração E) metáfora
04- Leia o
trecho do poema abaixo.
O Poeta da Roça
Patativa do
Assaré
Sou fio das
mata, cantô da mão grosa
Trabaio na roça,
de inverno e de estio
A minha chupana
é tapada de barro
Só fumo cigarro
de paia de mio.
A respeito dele,
é possível afirmar que
(A)
não pode ser considerado literário, visto que a linguagem aí utilizada não está
adequada à norma culta formal.
(B)
não pode ser considerado literário, pois nele não se percebe a preservação do
patrimônio cultural brasileiro.
(C)
não é um texto consagrado pela crítica literária.
(D)
trata-se de um texto literário, porque, no processo criativo da Literatura, o
trabalho com a linguagem pode aparecer de várias formas: cômica, lúdica,
erótica, popular etc
(E)
a pobreza vocabular – palavras erradas – não permite que o consideremos um
texto literário.
05. (UFRGS) O
soneto é uma das formas
poéticas mais
tradicionais e difundidas
nas literaturas
ocidentais e expressa,
quase sempre,
conteúdo:
(A)
dramático. (B) satírico. (C) lírico. (D) épico. (E) cronístico.
06- (UFRGS)
Considere as seguintes afirmações:
I
- O romance é um gênero literário em constante evolução que, na sua
configuração atual, utiliza-se das técnicas mais variadas, provenientes,
inclusive, de outras artes como o cinema e a pintura.
II
- O conto é uma narrativa em prosa, de curta extensão, cuja trama é em geral
construída com tempo, espaço e número de personagens reduzidos.
III
- A crônica moderna apresenta-se como um registro isento e distanciado de
acontecimentos cotidianos presenciados pelo cronista.
Quais
estão corretas?
(A)
Apenas I. (B) Apenas II. (C) Apenas I e II. (D) Apenas II e III. (E) I, II e
III.
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