TROVADORISMO
·
Considera-se
marco inicial do Trovadorismo o ano de 1189 ou 1198, data dessa época o mais
antigo da literatura portuguesa, a Cantiga da Ribeirinha.
·
Compreende-se
que o ano-marco do término do Trovadorismo é o de 1434 (século XV) quando
Fernão Lopes foi nomeado cronista-mor da Torre do Tombo.
·
O
Trovadorismo ocorreu durante o feudalismo.
·
O
poder do clero se igualava ao dos reis, e possuíam domínio sobre o poder, tanto
da vida artística e intelectual.
·
O
teocentrismo (visão de mundo segundo a qual Deus é o centro do Universo)
definia o modo de viver e de ser
·
O
Trovadorismo é considerado a primeira manifestação literária da língua
portuguesa.
·
Surgiu
no século XII, durante a Idade Média – período em que Portugal estava em
processo de formação nacional.
·
Inicia-se
com a Cantiga da Ribeirinha (conhecida também como Cantiga da Garvaia),
escrita por Paio Soares de Taveirós, no ano de 1189.
·
Os
trovadores eram artistas de origem nobre, que compunham e cantavam acompanhados
de instrumentos musicais. As cantigas eram manuscritas e reunidas em livros,
conhecidos como Cancioneiros.
·
O
segrel e o jogral eram os trovadores e cantores ambulantes que se apresentavam
as cantigas nos castelos e feiras, ao ritmo de instrumentos musicais.
·
Os
trovadores que se destacam na lírica galego-portuguesa são: Paio Soares de
Taveirós, Dom Duarte, Dom Dinis, João Garcia de Guilhade, Aires Nunes e
Meendinho.
·
As
cantigas são divididas em dois grupos: as Satíricas (Cantigas de Maldizer e
Cantigas de Escárnio), e as Líricas (Cantigas de Amor e Cantigas de Amigo).
·
Cantigas
de Maldizer: os trovadores faziam sátiras diretas, chegando muitas vezes
a agressões verbais e palavrões. O nome da pessoa satirizada
podia aparecer, ou não, explicitamente na cantiga.
Dona fea, se Deus me perdon,
Pois avedes [a] tan gran coraçon
Que vos eu loe, em esta razon
Vos quero já loar toda via;
E vedes qual será a loaçon:
Dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
Em meu trobar, pero muito trobei;
Mais ora já um bom cantar farei,
Em que vos loarei toda via;
E direi-vos como vos loarei:
Dona fea, velha e sandia!
(Joan Garcia de Guilhade)
·
Cantigas
de Escárnio: as sátiras eram feitas de forma indireta, utilizando-se de
duplo sentido. O nome da pessoa satirizada não aparecia.
Roi Queimado morreu con amor
en seus cantares, par Sancta
Maria,
por Da dona que gran ben queria:
e, por se meter por mais
trobador,
porque lhe ela non quis ben
fazer,
feze-s’el en seus cantares
morrer,
mais resurgiu depois ao tercer
dia!
(Pero Garcia Burgalês)
·
Cantigas
de Amor: escritas em 1ª pessoa, o eu lírico declara seu amor a uma dama, tendo
como ambiente o palácio. O trovador valoriza as qualidades da mulher amada,
que é vista como um ser inatingível, uma figura idealizada, a quem é dedicado
um amor sublimado, igualmente idealizado.
·
Tema:
amor não correspondido.
·
Eu
lírico: masculino.
Quer’eu em maneira de proençal
Fazer agora um cantar d’amor,
E querrei muit’i loar mia senhor
A que prez nem fremesura non fal,
nen bondade; e mais vos direi en:
tanto a fez Deus comprida de ben
que mais que todas las do mundo
val.
(El-Rei D. Dinis)
·
Cantigas
de Amigo: também escritas em 1ª pessoa, apresentam um diferencial – o eu lírico
é feminino (apesar de escritas por homens). A palavra amigo, nestas
cantigas, tem o significado de namorado. O tema principal é a lamentação da
mulher pela falta do amado. O ambiente é a zona rural; a mulher é sempre
uma camponesa.
Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo?
E ai Deus, se verrá cedo!
Ondas do mar levado,
se vistes meu amado?
E ai Deus, se verrá cedo!
(Martim Codax)
A
prosa medieval – séculos XIII e XIV
·
A
mais importante manifestação em prosa foram às novelas de cavalaria.
·
Originárias
da Inglaterra e da França, as novelas de cavalaria derivam de poemas
medievais cantados em linguagem popular e que celebravam os feitos guerreiros.
·
No
final do século XIII, foram traduzidas em Portugal três novelas, todas
pertencentes ao chamado ciclo bretão ou arturiano (tinham como cenário o reino
de Camelot e por heróis o rei Artur e os cavaleiros da Távola Redonda): História
de Merlim, José de Arimatéia e Demanda do Santo Graal.
HUMANISMO
Contexto
Histórico
·
O
feudalismo entrou em decadência devido às guerras e epidemias.
·
O
poder político se concentrou nas mãos dos reis, instaurando-se o Absolutismo.
·
A
Monarquia já não se submetia ao poder da Igreja.
·
Surgimento
das cidades e dos burgueses.
·
A
invenção da imprensa por Gutenberg, em 1452.
·
Inicio
das grandes navegações.
·
O
Humanismo corresponde ao período que vai desde a nomeação de Fernão Lopes para o
cargo de cronista-mor da Torre do Tombo, em 1434, até o retorno de Sá de
Miranda da Itália, introduzindo em Portugal a nova estética clássica, no ano de
1527.
·
Na
Itália, podemos destacar: Dante Alighieri, autor da Divina Comédia;
Giovanni Boccaccio e Francesco Petrarca. Em Portugal: Gil Vicente, autor de A
Farsa de Inês Pereira.
·
Nessa
época foram cultivados a historiografia, cujo maior representante é Fernão
Lopes (considerado o pai da História Portuguesa), a prosa didática, a poesia
palaciana (compilada no Cancioneiro Geral) e o teatro popular de Gil Vicente.
Período de transição entre o Trovadorismo e o Classicismo.
·
A
produção artística do Humanismo, iniciado na Itália, reflete a passagem do
teocentrismo para o antropocentrismo. As formas humanizam-se. Surgem textos
mais aprimorados de autores que conhecem o latim clássico.
·
Prosa: em suas
crônicas, Fernão Lopes contou a vida de seus reis, a Revolução de Avis, a
expansão ultramarina. Apesar de ser chamado “O Historiador da Revolução de
Avis”, para ele a história era constituída não só pelas façanhas de reis,
nobres e cavaleiros, mas também pelos movimentos populares e pelas forças
econômicas.
·
É
o primeiro historiador português a desprezar o relato oral e, com objetividade,
imparcialidade e rigor, baseou-se em várias fontes documentais. Suas crônicas
também apresentam qualidades literárias: prosa dinâmica, linguagem simples,
estilo rico e movimentado.
·
Poesia
palaciana:
é feita por nobres e para a nobreza; retrata usos e costumes da Corte. Sua
produção está registrada no Cancioneiro Geral, organizado por Garcia de
Resende.
·
A
poesia apresenta uma separação entre a música e o texto, o que resultou
num maior apuro formal: os textos passaram a apresentar ritmo e melodia
próprios, obtidos a partir da métrica, da rima, das sílabas tônicas e átonas;
desenvolveram-se as redondilhas, tanto a redondilha maior (verso
de 7 sílabas) quanto a redondilha menor (5 sílabas).
·
Teatro: até esse
momento não se tinham produzido textos especialmente elaborados para a representação
teatral. Na Idade Média só houve encenações religiosas para as festas de Páscoa
e Natal. Foi Gil Vicente que, em 1502, com o Monólogo do Vaqueir (ou
Auto da Visitação), escrito em castelhano, fundou o teatro português. Nesse
auto, declamado nos aposentos da rainha, ele saúda o nascimento do futuro rei
D. João III, filho de D. Manuel e de D. Maria.
·
O
teatro popular de Gil Vicente é basicamente caracterizado pela sátira ao
comportamento de todas as camadas sociais: a nobreza, o clero e o povo. Apesar
de sua religiosidade, Gil criticava bastante o clero.
·
Quanto
à forma, à utilização de cenários e montagens, o teatro é extremamente simples:
não chega a obedecer às 3 unidades do teatro clássico – ação, lugar e tempo.
Seu texto apresenta estrutura poética, com predomínio da redondilha maior,
havendo mesmo várias cantigas no corpo de suas peças.
Farsa
de Inês Pereira
·
A
obra foi escrita a partir de um desafio lançado por pessoas que duvidavam do
talento de Gil Vicente. O autor concordou em escrever uma peça que comprovasse
o provérbio "Mais quero um asno que me carregue do que cavalo que me
derrube". Foi representada pela primeira vez a João III de Portugal no Convento
de Cristo, em Tomar, em 1523. Logo após seu descontentamento da coroa
portuguesa.
·
Inês,
moça simples e casadoira, mas com grande ambição procura marido que seja
astuto, sedutor. A mãe de Inês, preocupada com a sua filha, sua educação, incita-a a casar com Pero Marques,
pretendente arranjado por Lianor Vaz. No entanto, Inês Pereira não se apraz do
filho do lavrador, por este ser ignorante e inculto.
·
Entram
então em cena dois casamenteiros judeus, e Inês se casa com um escudeiro, de
sua graça Brás da Mata.
·
Este
casamento depressa se revela desastroso para Inês, que por tanto procurar um
marido astuto acabou por casar com um que antes de sair para a guerra, dá
ordens ao seu moço que fique a vigiar Inês e que a tranque em casa de cada vez
que sair à rua.
·
Meses
após a sua partida, Inês recebe a prazerosa notícia de que o seu marido foi
morto por um pastor. Não tarda em querer casar de novo e, nesse mesmo dia,
chega-lhe a noticia de que Pero Marques continua casadoiro, de resto como ele
havia prometido a Inês quando do primeiro encontro de ambos.
·
Inês
casa com ele logo ali e, já no fim da história, aparece um ermitão que se torna
amante da protagonista.
·
O
ditado "mais quero asno que me carregue que cavalo que me derrube",
não podia ser melhor representado do que na última cena da obra, quando o
marido a carrega em ombros até ao amante, e ainda canta com ela "assim são
as coisas".